Fantasia – Ousadia e inovação dos Studios Disney

Fantasia

Todos conhecemos as animações Disney: histórias com começo, meio e fim, com um final feliz, bem articuladas, animações impecáveis, com um cuidado especial com as trilhas sonoras, personagens com traços cartunescos inconfundíveis e suas histórias com adaptações de contos de fadas. Bom, depois dos sucessos de Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Pinóquio (1940), Walt Disney resolveu inovar.

Fantasia é uma coletânea de curtas animados em sincronia com diferentes peças de músicas clássicas. Lançado em 1940, Fantasia é um filme bastante experimental. A animação mistura arte abstrata, a beleza da natureza, ciência, mitologia e misticismo. Mas a coisa não para por ai.

Walt Disney queria algo diferente feito até então, por isso Fantasia foi planejado com um formato novo: um filme concerto. A música e a animação teriam a mesma importância, o público iria ao cinema para apreciar a união entre as duas artes. Para fazer o filme, Walt Disney fez uma parceria com o maestro Leopold Stokowski, que na época tinha grande destaque. Juntamente com Stokowski, Disney escolhei 8 peças de música clássica para ilustrar as animações. O filme é dividido em oito partes e na seguinte sequência:

  1. Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 565De Johann Sebastian Bach; pela primeira vez, Disney e seus artistas se arriscaram no mundo da abstração e a equipe de efeitos especiais teve a chance de colocar todo o seu talento na tela;
  2. Suíte Quebra-NozesDe Tchaikovsky; é o segmento onde os artistas tomaram um caminho diferente da tradicional história envolvendo brinquedos, fazendo sua própria interpretação da música e mostrando um número que simboliza as estações do ano, através de fadas aladas e outros elementos da natureza, como flores e peixes bailarinos, cogumelos chineses e cravos russos;
  3. O Aprendiz de Feiticeiro – De Paul Dukas; apresenta Mickey Mouse no papel do feiticeiro afobado que quer aprender seu ofício antes da hora;
  4. Sagração da PrimaveraDe Igor Stravinsky; é como uma explicação científica da evolução da vida na Terra, desde os primeiros seres microscópicos aos gigantescos dinossauros;
  5. Sinfonia PastoralDe Beethoven; tem como cenário o Monte Olimpo e seus deuses da mitologia;
  6. Dança das HorasDe Amilcare Ponchielli, apresenta uma sátira ao balé clássico e representa as horas do dia por um grupo de animais, como avestruzes, hipopótamos, elefantes e jacarés;
  7. Uma Noite no Monte CalvoDe Modest Mussorgsky; é ilustrado pelo demônio Chernabog que vive no alto de uma montanha, e que na noite de Halloween vem atormentar as almas de um vilarejo;
  8. Ave MariaDe Franz Schubert; o segmento apresenta uma procissão religiosa que segue até uma capela gótica, é a continuação do segmento anterior.

Mas walt Disney foi mais longe. Além de inovar na proposta de animação do filme. Por ser uma obra que a música ocupa um papel enorme, Disney quis encontrar uma maneira diferente de transmitir o som nos cinemas, algo que fizesse que a plateia sentisse que existia uma orquestra ao vivo. Nesse sentido, os engenheiros da Disney desenvolveram um sistema de som chamado Fantasound, criado pelo engenheiro de som William Garity, um esquema complexo que espalhava diferentes sons em diversas partes do ambiente. Nosso conhecido surround 5.1 ou 7.1 surgiu dai.

Instalação do Fantasound

A exibição do filme também seria diferente, por isso se chamava “um filme concerto”. A ideia era tornar Fantasia uma atração artística perpétua, ou seja, após 1 ano em cartaz, uma nova versão seria lançada com novas animações e novas músicas. Bom, Fantasia deixou a crítica dividida e a bilheteria do filme também não surpreendeu. Apenas 17 salas de cinema dos EUA instalaram o sistema Fantasound, sendo assim Walt Disney se viu obrigado a cancelar seus planos e se adequar a realidade da época. Fantasia foi uma das grandes frustrações de Walt Disney, pois ele acreditava muito no projeto.

Cartazes de cinema da época

Mas, na década de 60, 3 anos depois da morte de Walt Disney (1966), período em que o movimento hippie e a contra cultura estavam em voga, Fantasia foi relançado e fez tremendo sucesso. Jovens descobriram que assistir fantasia sob efeito de drogas alucinógenas era surreal. Nas décadas seguintes o filme teve outros lançamentos de sucesso, fez boas vendas de VHS e ganhou uma espécie de continuação: Fantasia 2000.

O Aprendiz de Feiticeiro

Levou tempo mas Fantasia teve o reconhecimento merecido pela obra ousada de animação que é. Será que se Fantasia tivesse feito o sucesso pretendido por Walt Disney na época em que lançou, os rumos dos desenhos Disney teriam mudado? Fica a incógnita.

 

 

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