Foley Artists e a arte de mentir no cinema

                           Foley Artists e a arte de mentir no cinema

Escutar é uma ação passiva, nós escutamos independente de querermos ou não. Quantas vezes você esteve incomodado com algo que não sabia o que era e de repente percebeu que era um ruído de fundo que o atormentava? Ou aquele despertador que começa a tocar e que faz com que você sonhe com ele? O som está numa dimensão abstrata, que não podemos apalpar, enxergar, mensurar e definir de maneira objetiva com palavras e essa é sua grande magia e mistério.

Uma das coisas que rapidamente percebi enquanto editor de vídeo, era o poder das trilhas, do sound design, do desenho de som, dentro de uma obra audiovisual. O som é o que ajuda a criar a ambientação dos filmes, que gera emoções, tensões e mistérios na trama. É o que nos faz entrar numa experiência de total imersão no filme. Mesmo o silêncio é um artifício de som. Seu papel é fundamental para fazer o espectador acreditar que tudo aquilo é real. Quando vamos assistir um filme em live action (principalmente filmes Hollywoodianos), uma animação ou jogar vídeo game, pouca gente sabe que praticamente todo o trabalho de áudio é feito na pós-produção por artistas chamados “Sound designers” ou “Foley artists”. Existem studios especializados apenas nisso: em criar sons para filmes, animações, jogos e essa é uma arte bastante curiosa. Vamos entender um pouco melhor como funciona esse processo.

Se uma pessoa desinformada entrar num studio de sound design, com certeza vai pensar estar num grande antiquário, um brechó ou um ferro velho, pois é cheio de objetos estranhos, bugingangas, placas de metal, cordas, vidros, alimentos, etc. O foley artist usa todo tipo de objeto para criar texturas de som. São mestres em inventar toda espécie de soluções para conseguir o resultado desejado. É uma profissão que exige muita observação e criatividade, pois muitos sons criados não tem nada a ver com a imagem em questão. Por exemplo: o som de um osso se quebrando, comumente é feito com a quebra de um pé de aipo ou o barulho de chuva é feito com torresmos fritando. Ai vai da criatividade de cada profissional, pois as técnicas variam de um pra outro. Nada é sensato quando se trata de criar foleys.

O foley artist Gary Hecker fala o seguinte da sua profissão:

“Foley é um ofício que muitas pessoas tentam e desistem, porque você precisa desenvolver e ter certas qualidades que são realmente pesadas: timing e uma mente criativa, porque você é jogado numa sala cheia de adereços e você tem que inventar essas coisas…”

Alyson Moore, Foley artist dos Studios Warner Bros. define da seguinte forma:

“Foley é a arte do som. É criar sons em sincronia com o que está acontecendo na tela. A arte do Foley vem da antiga arte do radio, onde você via os caras com cascas de cocos na mão criando sons de cavalos trotando.”

É unânime entre os sound designers dizer que o gênero mais difícil de criar foleys é o terror. Isso porque para esse gênero é necessário criar sons que normalmente não existem na realidade: monstros, aliens, dragões, elfos, etc. As vezes é necessário criar instrumentos próprios para chegar a resultados gratificantes.

O termo “foley” vem do precursor do sound design, Jack Foley, que em 1920 se atentou para o fato de que a melhor maneira de sonorizar um filme e melhorar sua experiência seria criar os próprios sons para o mesmo. Seu último trabalho foi em Spartacus (1960) de Stanley Kubrick.

Para poder criar os foleys para determinada cena, os foley artists fazem todo um trabalho de decupagem das cenas e seleção de objetos que usarão para a mesma. Observar esses profissionais trabalhando pode, muitas vezes, parecer bem engraçado, pois assumem posturas e expressões bem caricatas.

O sound design é fundamental para extrair todo o potencial de um filme e expressar a intenção do diretor. É um profissão extremamente difícil e que requer muito conhecimento e dedicação para que a pessoa se torne um bom profissional. Comumente são profissionais que não recebem grande reconhecimento do público o que não os torna menos importante dentro do processo de produção de um filme. Na arte do sound design quanto mais imperceptível for a percepção direta de sua ação, significa que mais perfeito ficou o trabalho. O sound design é a arte das sutilezas.

 

 

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