O Primeiro dia

Hoje decidi contar pra vocês algumas histórias que eu sempre falo que vou contar e nunca conto, começando por: meu primeiro dia numa agência na Inglaterra vs meu primeiro dia numa agência no Brasil.

Vamos estabelecer algo, ok? Em ambos os primeiros dias, estava nervosa, não conhecia ninguém além de quem tinha me entrevistado e achava que tudo o que eu estava fazendo estava sendo julgado 100% do tempo (a paranoia era tão grande aqui na Inglaterra, que eu não comi nada além de um lanchinho na hora do almoço e fiquei a menos de 2 minutos de distância da agência pra poder voltar correndo pra agência no menor sinal de que tinha alguém voltando também – independente se isso significaria menos tempo de almoço).

No caso inglês, eu era freelancer alocada na agência; no brasileiro, era contratada PJ.

Foi um dia relativamente tranquilo por aqui, mas eu estava ansiosíssima, aguardando pra que no final do dia tivessem milhões de micro trabalhos para o dia seguinte e eu tivesse que ficar direto (como foi no meu primeiro trabalho no Brasil, logo na primeira semana). Me apresentaram o projeto pela manhã, me deram um tempo para me sentir confortável e arrumar minhas coisas e pediram que ao final do dia tivessemos uma reunião breve para alinhar as perspectivas. Nessa reunião, falei sobre o que me deixava preocupada e sobre não ter problemas em ficar mais, caso o necessário, no que o diretor do projeto vira e fala “mas quanto tempo mais? Se for uma questão de horas, espalhamos pelo seu horário na semana e podemos rever a data de entrega com o cliente final.” – o que, logicamente, me deu uma pancada de realidade: não vai fazer hora extra só porque sim, tá louca?!

No Brasil o dia já começava caótico: “você é responsável por x, y, z projetos e a gente precisa de uma resposta de quanto vai demorar o storyboard hoje ainda, ok? Preciso dele pronto no final dessa semana, não dá pra atrasar, então você pode ter que ficar mais umas horinhas…”, e, lógico, todo o material em HDs externos que ninguém fazia ideia de como se organizavam.

Não preciso nem comentar que, mesmo ansiosa, as experiências foram bem distintas, não é mesmo? Isso pra mim foi a coisa mais marcante do dia, mas algo que me deixou boquiaberta também foi a dureza no ambiente de trabalho.

Apesar de ser um ambiente bom, onde as pessoas se respeitam e respeitam o trabalho do outro (tanto que é quase impossível que um interfira no trabalho do outro se não tiver sido expressamente mandado), as pessoas vestem um tipo de “máscara de trabalho”, no sentido de que você é um colega, provavelmente não será amigo e se for, vai ser uma relação um pouco diferente das demais. A gente, como brasileiro, sente falta de um calor nas amizades, de um abraço, de uma sinceridade que não é bruta, de uma verdade nas relações.

Tá no sangue latino essa coisa nossa de se ajudar, de se tratar com pessoalidade mesmo nas relações profissionais. E a gente é assim, cheguei a conclusão, porque a gente sofre com o resto das coisas também. Brasileiro é um povo sofrido, latino é um povo sofrido, que veio dessa mistura de gente batalhadora, que, debaixo de um sol quente à temperatura do inferno, construiu um continente que cresce e cresce, mesmo sendo saqueado a torto e a direito por toda a nossa história. A gente só precisa aprender a se respeitar no âmbito profissional (essa é principalmente pra cultura de agência).

Um disclaimer básico: essa história é sobre a minha experiência pessoal na Inglaterra e no Brasil. Se há outros estúdios que tem comportamento diferente, se o que eu falei não bater com história de fulano ou ciclano, não posso fazer muita coisa se não dar espaço nos comentários pra ouvir. Inclusive, me chama, que eu to sempre aberta a escutar e conversar!

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