Os poderes da biblioteca mental

Você já ouviu falar de Kim Jung Gi? Mesmo se não trabalhar especificamente com ilustração, é bastante provável que você já tenha ouvido falar ou tenha visto um dos seus painéis caóticos, com uma variedade enorme de personagens e temas. Nas suas streams ele desafia os espectadores a sugerir qualquer tema e os desenha diretamente com sua caneta, sem linhas de construção, sem pensar mais do que alguns segundos, como se sua memória fosse infinita. Mais do que a técnica apurada, a biblioteca mental do sul coreano é de dar inveja.

Toda pessoa possui uma biblioteca mental. Ela é composta por tudo que você observa e é retido no seu cérebro. Suas ideias são uma colagem de experiências acumuladas durante a vida, que se misturam de formas variadas. O funcionamento é parecido com uma biblioteca real, onde você tem uma coleção de recursos para pesquisar e encontrar soluções para problemas específicos. Para os criativos isso é ainda mais importante, pois como criar peças de ilustração e animação sem referências? Você pode e deve buscar referências externas que tenham relação com o seu projeto, mas ter um acervo menta variado é igualmente importante. Já percebeu como bons profissionais que têm anos de experiência parecem ter soluções para os mais variados problemas? O que a gente chama de experiência nada mais é do que uma biblioteca mental vasta e organizada, combinada com uma técnica forjada por diferentes trabalhos e projetos.

Como saber se a sua biblioteca mental está escassa? Um bom indicativo é quando você tem aquela sensação de que tudo que você faz é muito parecido. Os objetos são sempre os mesmos, se movimentam da mesma forma e só mudam ligeiramente. Qualquer coisa que saia da sua zona de conforto te deixa levemente ansioso e você se sente perdido. Geralmente utilizar referências ajuda, mas você sente que está mais copiando do que utilizando como inspiração para resolver um problema específico.

Ok, mas como eu faço pra aumentar meu acervo mental? A habilidade mais importante que você deve cultivar é a observação. Observar não é apenas olhar para algo, mas ativamente tentar entender como aquilo foi construído e pensado. Desde o momento que você acorda e abre os olhos o seu cérebro analisa tudo que você vê, mas não necessariamente retém todas as informações. Você precisa indicar ao seu cérebro que determinada informação é importante para você, por isso é bom observar temáticas que sejam realmente do seu interesse.

Foque em coisas específicas. Não busque observar uma animação inteira, mas os temas que você quer aprender. No meu caso, quando observo ilustrações, eu tento focar em um aspecto de cada vez. Como o artista criou a ilusão de movimento? Como ele construiu o corpo? Que tipo de design ele aplicou nas formas? Algo que o Kim Jung Gi fazia quando estava construindo sua biblioteca mental gigantesca era dividir os dias e semanas em temas. Caso ele estivesse trabalhando em um projeto que envolvesse desenhar carros, ele ficava dias pesquisando imagens de diferentes veículos e pensava em formas de retratá-los em diferentes ângulos. Além disso, ele fazia isso de forma progressiva, começando por bicicletas, motos, até chegar nos veículos desejados.

A melhor parte da observação é que você pode realizar a qualquer momento. Você pode observar o mundo ao seu redor, como as pessoas se mexem, como a luz se modifica. Não precisa ficar restrito às artes visuais, pois muitas vezes você pode encontrar na música e literatura soluções para problemas visuais.

Comece pequeno, observe algo do seu interesse por 10 minutos com total atenção. Caso ajude, anote o que observou e o que você poderia estudar e praticar para consolidar esses conceitos. Quando se dar conta, sua biblioteca mental vai estar mais vasta e sua criatividade mais diversa.

Boa semana!

Comentários

comments