Quer se arraste ou acabe de repente, a duração de um plano comunica algo único pra sua audiência.

Uma das coisas mais importantes que se aprende com os grandes diretores soviéticos como Kulesov, Pudovkin e Eisentein é que a edição tem sua própria língua. A teoria da montagem diz que um plano se comunica com a audiência através das duas características rítmicas e intelectuais, além da sua relação com outros planos na timeline. Mas e quanto à duração de um plano? Será que o tempo de um plano muda o jeito de se entender uma cena? O canal CineFix tenta responder essa pergunta num vídeo comparando a edição em cenas dos filmes Ida e Onde os Fracos Não Tem Vez:

Prolongando

O take longo de Ida é um exemplo perfeito de como esses planos podem ser usados como ferramenta de narrativa, porque mostra como um plano prolongado influi não apenas num nível emocional, mas espacial também.

Num nível emocional, a personagem em Ida decidiu que vai acabar com a própria vida, e a duração do plano reflete tanto essa decisão quanto o estado emocional dela de várias formas. Primeiro, pense na montagem como uma mente — o ritmo arrastado dos três cortes dessa cena (o plano aberto no banheiro, o close-up na banheira, e o plano aberto na sala) lembram o ritmo lento de pensamentos de quem tomou uma decisão. Não existem pensamentos ou ideias borradas; a mente não está se esforçando para chegar a uma conclusão, porque ela já foi feita. Emocionalmente, esse tipo de prolongamento do plano é interessante porque: 1) o ritmo arrastado também lembra o desânimo de alguém que chegou a uma decisão dessas; 2) a edição lenta imita a piscada lenta do mesmo desânimo. (Você já ouviu falar da correlação entre o corte e a piscada humana, né?)

O take longo funciona num nível espacial também. Já que a ação importante vai acontecer na janela pra onde a câmera está apontando, não existe motivo para movimento de câmera. Além disso, o fato dela permanecer estática cria antecipação cada vez que o personagem deixa o frame, principalmente por termos sido treinados, como espectadores, que qualquer coisa que a câmera aponte é importante. Em Ida, a câmera aponta para a janela e vemos a personagem se movendo pra dentro e pra fora do frame. O que isso nos diz? Bem, isso diz que a única constante no frame é a janela, ou seja, ao invés da personagem, é na janela que deveríamos prestar atenção.

Cortes curtos

Já uma técnica de edição oposta foi usada em Onde os Fracos Não Tem Vez. No lugar de permanecer num plano para criar tensão e antecipação, somos abruptamente levados de um plano aparentemente desnecessário pra outro, resultando num sentimento estranho de insatisfação com a cena inteira. Somos levados do que aparenta ser o meio de um plano pra outro sem nenhum tipo de conclusão ou explicação, algo que os diretores fizeram de propósito, para refletir a insatisfação que Anton sentiu depois que Carla Jean se recusa a entrar no jogo e escolher um lado da moeda e assim selar seu destino.

Esse método essencialmente brinca com as regras de edição que aprendemos como espectadores: que filmes, cenas e planos individuais têm início, meio e fim. Em outras palavras, é preciso que haja uma rima e razão, uma causa e efeito para o que estamos assistindo, que os irmão Coen não nos dão. Ao invés disso, dão-nos uma série de planos que a princípio parecem levar ao justo fim do vilão, mas acaba sendo só uma saída sem sentido. O vilão se dá bem com seus crimes — e nós estamos lá pra assisti-lo lenta e absurdamente desaparecendo no horizonte.

Existem muitas técnicas diferentes de edição que usam a duração do plano, cada uma com seu próprio efeito sobre o espectador. (De fato, muitos dos longos takes que vemos em filmes estão lá pra comunicar algo principalmente com a cinematografia e não com a edição.) Porém, um dos princípios básicos da edição é ser econômico nos cortes, deixar de fora qualquer coisa desnecessária. É com você decidir o que fica e o que sai, mas se lembre de uma lição que o vídeo ensina: não é só a narrativa da história que você está contando, é também a narração, a forma como você conta.

Fonte: No Film School

 

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