Papo Lemonade com Emanuele Colombo

Emanuele Colombo, também conhecido simplesmente por Ema Colombo, é um Motion Designer italiano, baseado em Milão. Nascido em 1983, Emanuele cresceu em uma pequena cidade no meio do nada, rodeado pelos Alpes Italianos, passando o tempo construindo naves espaciais com Legos e sonhando em se tornar um paleontólogo. No entanto, as coisas foram diferentes do que esperava: em 2008 formou-se na Universidade de Milão em Comunicações Audiovisuais. Pouco tempo depois, começou a trabalhar em produção de vídeo e pós-produção.

Emanuele tem grande presença pela rede, sendo seguido por milhares de artistas e fãs em suas redes como Facebook e Instagram (onde periodicamente posta gifs). Além disso, mantém um canal no YouTube onde posta dicas e tutoriais sobre, principalmente, animação de personagens no After Effects.

 

Layer Lemonade: Você possui graduação em Audio-Visual Communications pela The University of Milan. Antes disso você já havia estudado algo sobre animação e design, ou todo o seu interesse na área veio após a universidade? Como desenvolveu suas habilidades técnicas e artísticas?

Emanuele Colombo: Isso vai parecer absurdo, mas a verdade é que não tenho nenhum background em Design. Felizmente, sempre me interessei pela criatividade em todas as suas formas, desde música até fotografia e vídeos. Diria que me tornei Motion Designer por acaso; depois da Universidade fui contratado por uma agência de comunicação em Milão, e trabalhei 2 anos como editor de vídeo. Então decidi largar esse emprego, e meu plano era tentar trabalhar como um editor de vídeo freelancer. Foi a pior e a melhor decisão que fiz na vida: a pior, porque de repente percebi que o mercado que estava tentando entrar era saturado, então basicamente me vi desempregado por mais de um ano. A melhor, porque finalmente tive tempo para me dedicar aos meus hobbies – desenho e animação.

Acho que ter essas coisas como hobbies me ajudou a desenvolver um bom senso estético, aumentou a criatividade e me deu alguma experiência técnica também que foram naturalmente integradas em meu trabalho atual, compensando parcialmente o fato de que meus estudos não estavam estritamente ligados a ilustração. Tive que expandir outros aspectos para chegar onde estou agora, e devo dizer que o papel dos tutoriais no YouTube foi fundamental para aprender tanto o uso de softwares de ilustração/animação e conceitos teóricos que nunca tinha ouvido falar até 5 anos atrás.

Mas o verdadeiro avanço para mim foi entender que poderia ganhar a vida com isso e não apenas fazê-lo como hobby. Vindo de uma cidade muito pequena que não oferece qualquer tipo de saída profissional/oportunidade na indústria criativa, foi difícil imaginar uma futura carreira fora do meu passatempo. A internet desempenhou um papel enorme. Permitiu-me o acesso a experiências e a realidades que não estariam disponíveis a mim de outra maneira; e colocou-me em contato com clientes novos do mundo inteiro.

LL: Além de todo o seu incrível talento, você diria que boa parte do seu reconhecimento internacional como Motion Designer, veio por causa dos projetos pessoais que você desenvolveu? Conte-nos um pouco sobre a importância de “The proof that we are soulmates” em sua carreira.

EC: “The proof that we are soulmates” coincide com o início da minha carreira. O vídeo se tornou viral e finalmente me deu o destaque que precisava. Tenho uma relação de amor e ódio com esse projeto, era obviamente muito importante para mim, mas depois de 6 anos não me enxergo – como artista -, nele. Em geral, no entanto, considero os projetos pessoais algo básico para qualquer criativo. Eles são oportunidades muito preciosaas para testar novas técnicas, novos estilos, sem ter que lidar com as solicitações dos clientes e seguindo os seus próprios ritmos criativos.Se o argumento é inteligentemente escolhido, você tem uma boa chance do projeto se tornar viral, trazendo a atenção internacional e, consequentemente, novos postos de trabalho.

LL: Se você pudesse voltar seis anos no tempo, para a sua fase inicial de freelancer, e desse três dicas a si mesmo que te ajudaria a conduzir melhor uma carreira de motion designer, quais seriam elas e porquê?

EC: Não faço a menor ideia 🙁

LL: Na sua série de tutoriais “Character Animation Tips&Tricks” fica claro que o seu workflow para animar personagens envolve apenas algumas ações simples, onde você brinca com a posição, rotação e escala dos elementos. Mas todos os seus personagens são animados assim, ou você também utiliza alguma técnica/ferramenta de rigging em outros projetos? Se sim, quais?

EC: Não, geralmente animo meus personagens usando exatamente as técnicas que mostrei na série de tutoriais que postei no meu canal do Youtube. Em alguns casos, uso o plug-in Rubberhose, de meu amigo Adam Plouf, que acho incrível. Ele me economiza muito tempo, e acho que é conveniente, especialmente para animar pernas de personagens. Fora isso, prefiro gerir e animar tudo à mão.

LL: Quais os profissionais e estúdios que você mais admira atualmente? E com qual/quem você tem vontade de trabalhar?

EC: Acredito que a Buck e Giant Ant são a referências mundiais para todos que trabalham com Motion. Meu estúdio favorito, no entanto, é o Animade; seu senso de humor é a assinatura em todos os vídeos, tornando-os imediatamente reconhecíveis, e essa singularidade me faz preferi-lo aos outros. Também gosto da liberdade que dão aos projetos pessoais dentro do estúdio, e acho isso uma abordagem muito inteligente.

LL: “Don’t be a bully, loser.” é um projeto que contempla uma boa direção de arte, uma ótima animação e um importante tema. Conte-nos um pouco sobre todo o processo da concepção ao resultado final deste projeto.

EC: Como muitas vezes acontece comigo, as idéias chegam por acaso. Acho que esteticamente falando, o que marca o vídeo é o uso de texturas nas sombras e no cabelo dos personagens. Muitas pessoas têm me perguntado como fiz isso; a realidade é que o fiz a partir da digitalização da primeira página do meu livro favorito quando era criança “Macmillan illustrated animal encyclopedia”.
Eu estava folheando o livro em um momento de descanso, notei a textura muito especial e pensei que viria a calhar. Tinha planejado trabalhar em um projeto pessoal sobre bullying, então decidi tentar usar a textura para criar o primeiro styleframe, e todo o resto veio como consequência disso.

LL: Como é a sua rotina em um dia normal de trabalho? Como conduz o seu tempo para produzir projetos pessoais e atender clientes?

EC: A gestão do tempo não é um dos meus pontos fortes, infelizmente. Por natureza, não sou uma pessoa que levanta cedo (geralmente entre 8 e 9 da manhã). Algumas vezes na semana, gosto de fazer umas corridas por cerca de 30 minutos. Eu não sou muito ativo durante a manhã, então prefiro usá-la para atender outras coisas como envios de e-mails, preparar estimativas, ou lidar com trabalhos de rotina que não necessitam de esforços criativos. Na parte da tarde me dedico a trabalhos que exigem mais concentração, no período das 14:00 as 19:00 é a hora do dia em que me sinto mais produtivo.

Para equilibrar projetos pessoais com projetos comerciais, dou um jeito de sempre arranjar tempo para produzir uma animação em loop; que geralmente coloco em minhas páginas do Facebook e Instagram. Em projetos mais pessoais e desafiadores, como o Don’t be a bully, loser – que você mesmo mencionou -, tento trabalhar nos meses que sei que há um descanso geral, normalmente em Janeiro, logo após as férias de Natal, ou Setembro, quando terminam as férias de verão dos europeus.

LL: Na sua visão, qual o futuro da indústria do Motion Design?

EC: É muito difícil dizer, pois a Internet é um universo que muda rapidamente. Certamente, acho que haverá mais e mais interação entre o Motion Design e codificação. Também acredito que o Motion Design vai encontrar outras áreas de aplicação, tais como realidade aumentada e realidade virtual.

LL: Você já fez um workshop em Dubai sobre Character Animation e também já rodou alguns países da Europa. Há alguma chance desses workshops ocorrem também aqui no Brasil?

EC: Não sou a pessoa que organiza esses workshops, por isso não depende diretamente de mim, infelizmente. Mas uma viagem para o Brasil está na minha lista de afazeres, então espero que você – ou algum estúdio brasileiro -, me convide para uma oficina ou algo relacionado a eventos motion design. Dado que muitos dos seguidores de minha página no Facebook são brasileiros, não descarto a ideia de organizar algo em pessoa assim que encontrar tempo para fazê-lo.

LL: Qual o melhor conselho que recebeu de alguém da área e que passaria adiante para alguém que está começando?

EC: A verdade é que, tendo sempre trabalhado sozinho ninguém nunca me deu conselhos 🙂 Então digo aqui um conselho que às vezes digo para mim mesmo: faça algo legal! A Internet é um lugar muito democrático, e quem faz algo bom imediatamente recebe a atenção que merece. Tentei construir minha carreira com essa abordagem, e acho que é a melhor abordagem. Outro conselho muito importante que posso dar para aqueles que estão começando é tentar experimentar com diferentes estilos e técnicas de animação. É a única maneira que existe para compreender quais são os seus pontos fortes, o que você mais gosta e em quê é melhor. Quando você conseguir distinguir isso, invista todos os seus esforços para melhorar constantemente nessa área especificamente, mas nunca deixe de experimentar.

LL: E finalmente, quais os planos pro futuro de Emanuele Colombo? Já tem novos projetos a caminho? Estamos curiosos!

EC: Além de dezenas de projetos pessoais em minha cabeça – que não tenho tempo colocar em prática -, há uma grande notícia no horizonte que estou feliz em anunciar a vocês do Layer Lemonade: Estou prestes a abrir meu estúdio! Mais do que um estúdio, na realidade, será um workshop criativo. Acabei arranjando um porão no centro de Milão, e a ideia é convidar artistas de vários campos para desenvolver colaborações e projetos pessoais relacionados com a animação. O lançamento oficial será nos próximos meses, por isso fiquem ligados em minhas redes sociais para novas atualizações 🙂

RAPIDINHAS

LL – Mac ou PC?

EC – Mac.

LL – After Effects ou Moho?

EC – After Effects.

LL – Script para rig ou rig feito a mão?

EC – Rig feito a mão.

LL – Chuva ou Sol?

EC – Sol.

LL – Limonada ou suco de laranja?

EC – Suco de laranja.


O Layer Lemonade agradece a participação de Emanuele Colombo! Desejamos sucesso em sua nova inciativa com o estúdio e esperamos vê-lo em breve no Brasil, promovendo o Motion Design de alguma forma.

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