Papo Lemonade com Thiago Maia | Cookie Studio

Fundador do Cookie Studio, Thiago Maia é um paulistano apaixonado por animação e design. Atualmente, com base na ensolarada Londres, trabalhou com alguns dos melhores estúdios de animação e marcas, incluindo MTV, Nokia, Samsung, BBC e Nickelodeon. Thiago também foi apresentado em várias revistas da indústria e eventos como palestrante, e é o co-fundador do See No Evil, evento que reúne os melhores e mais talentosos artistas da indústria.

Layer Lemonade: Quando percebeu que trabalhar com Motion Design seria inevitável?

Thiago Maia: Desde pequeno sempre gostei de desenhar. Fiz curso de Mangá e coisas assim, mas nunca fui muito bom com o papel e lápis. Quando chegou a hora de ir pra faculdade, fiquei na dúvida do que fazer, pois era muito bom em matemática e física e pensei em prestar robótica ou algo em exatas. Mas também como sempre curti a área criativa, pensei em Cinema ou Publicidade – que era o que tinha no Brasil no momento e acabei entrando em Propaganda e Marketing.

Depois de seis meses de faculdade, arrumei um estágio na produtora Prodigo Filmes, onde aprendi mesmo sobre animação e design e trabalhei por volta de três anos. Então meu percurso foi se adaptando até chegar onde queria e gostava.

LL: Dizem que as habilidades que adquirimos são reflexos de nossos estudos, esforços, graduação formal ou mesmo da qualidade do café que tomamos. Você consegue nos dizer como adquiriu e desenvolveu sua capacidade técnica e artística?

TM: Como disse antes, sempre gostei de desenhar, de arte; gostava muito de desenho animado, mangá, gibi… Isso me deu uma base, mas foi quando entrei na Prodigo e comecei a trabalhar na área que minha curiosidade ficou maior, que aprendi usar o After Effects 3.1, Photoshop, Illustrator e minha vontade de crescer e aprender mais ficou maior.

Tive ótimos professores lá e isso me ajudou muito. Naquela época, internet era coisa lenta e com menos recursos, então a pesquisa era feita em livros. Quando mudei para Londres, essa vontade de explorar, conhecer mais sobre tudo ficou maior. A quantidade de informação que tinha aqui era muita, viajar era conhecer museus ao céu aberto. Acho que isso tudo influenciou muito no meu aprendizado, e a vontade de crescer e fazer projetos pessoais me ajudou a desenvolver e aprender.

LL: Qual seu processo ao começar um projeto?

TM: Legal essa pergunta, pois dei um workshop no Festival do Clube da Criação em São Paulo, no final do ano passado sobre isso. Acho o processo muito importante quando se trabalha com cliente, outros colegas ou mesmo sozinho para se manter no cronograma.

Meu processo é meio que o mesmo de muitas pessoas e tento usa-lo desde um projeto pessoal até um projeto no estúdio. Trabalho sempre no conceito e na ideia primeiro. O que estou tentando passar com o projeto ou o que estou tentando vender. Qual a finalidade do projeto, a alma? Junto com o concept começo a procurar por referências de coisas que gosto e quero, cores, estilos…

https://vimeo.com/97352476 

Crio uns moodboard para ter a ideia fixa de onde quero ir. Com o conceito e moodboards prontos, pulo pra parte de style frames e storyboard, onde determino o design/direção de arte que vou seguir para o filme. Então, com o storyboard determino a narrativa, ângulos de câmera e composição dos elementos. Esse é o processo que tento seguir no começo de todos os projetos.

LL: Você é um artista do feeling ou preza por métodos mais exatos?

TM: Acho que aprendi muita coisa no dia-a-dia, e isso nos torna profissionais mais de feeling do que de métodos. Mas minha cabeça sempre foi pro lado de exatas, então acabo tendo umas coisas de métodos. Acho que sou um pouco dos dois, mas diria 60% Feeling, 40% Método.

LL: Você se recorda qual o primeiríssimo trabalho como Motion Designer? E aproveitando a deixa: de todos os projetos que trabalhou, qual o que olha e pensa “esse ficou perfeito!”?

TM: Primeiríssimo acho que não sei exatamente, mas dois projetos do começo da minha carreira me marcaram bastante: a série de Tv SuperSurf – que fizemos para a TV Bandeirantes em 2000 -, e a série Vida de Plástico, escrita por Felipe Xavier que passou na MTV Brasil.

Agora, um projeto que olho e penso “esse ficou perfeito” acho que não tem e nunca vai ter. Sou muito chato com detalhes, perfeccionista e critico bastante meu trabalho (isso dificulta na hora de falar esse ficou perfeito.)

LL: Você já aceitou um projeto que deu calafrios pelo desafio? Se sim, diz aí qual foi – se puder -, e o que achou do resultado.

TM: Acho que na época que trabalhava de freelancer muitos projetos me deram calafrios no começo. Sempre topei tudo e os desafios me deixavam com medo, mas trabalhei duro, usava minhas noites para aprender o que precisava e conseguia entregar os trabalhos bem feitos.

LL: Qual o software que mais usa em sua pipeline e por quê?

TM: Pessoalmente uso After Effects, ele é minha ferramenta preferida. Uso do design até finalização. Hoje em dia estou voltando a usar bastante Illustrator, e tentando o Photoshop quando é design, mas tem coisas que prefiro no After Effects mesmo.

LL: Ser dono do próprio estúdio talvez seja o que todo artista almeja em algum momento, mas não é fácil. Como foi o caminho até a criação do Cookie Studio e por que escolheu Londres como base?

TM: Ter um estúdio não é as dez mil maravilhas como muitos pensam, pois muitas coisas mudam. Você tem que se tornar um administrador de empresa, vendedor e cuidar de funcionários. Isso tudo são coisas que não pensamos quando somos mais novos e achamos que um estúdio nos dá a liberdade artística que queremos. Temos que pagar contas e para isso temos que fazer vários trabalhos que não são o que sonhamos.

Chega uma hora que começamos a escolher entre tocar o estúdio e dirigir o job, ou ficar fazendo design e animação. Curto muito design e animação e pra mim isso é uma briga grande, pois muitas vezes quero fazer tudo.

Vim para Londres em 2002 para aprender inglês e queria conseguir trabalhar na área, pois sempre curti os estúdios daqui, como o Studio AKA – um dos meus favoritos. Londres é foda, muita cultura e arte, e estamos na Europa. Para mim, Londres é o centro de tudo.

LL: Quais foram as maiores dificuldades que o estúdio enfrentou desde sua criação?

TM: Acho que as maiores dificuldades são financeiras e de como conseguir pegar os trabalhos do nível que sabemos que o estúdio pode fazer. Quando você começa, é difícil os clientes confiarem para passar trabalhos grandes, isso leva tempo.

LL: Você já passou um bom tempo trabalhando como freelacer. Quais as vantagens e desvantagens de atuar dessa maneira?

TM: Vou falar que adoro a vida de freelancer. Aqui em Londres se você é bom e gente boa, tem trabalho o ano todo. Gosto muito do novo, de mudar de lugar pra trabalhar, conhecer pessoas novas e dividir experiências. No mundo do freelancer isso acontece muito.

As vantagens são o dinheiro e liberdade, pois o freelance ganha mais que um trabalho de tempo integral, pode tirar férias e trabalhar quando quiser e precisar. Além disso, pode escolher os projetos que são mais o seu estilo (claro que isso é quando você sempre tem trabalho).

As desvantagens é que não se faz parte de um time todo dia, não cresce com a empresa ou tem o suporte da empresa para crescer. Como freelancer, isso tem que vir de você mesmo.

LL: Em uma entrevista para o FODACast, você mencionou sobre seu lado professor. Conta pra gente como é sua experiência com salas de aula.

TM: O pessoal da Escape Studio aqui de Londres me convidou para criar um curso de Motion Graphics e dar aulas. Acabei dando aula por pouco mais de dois anos e tive que parar por causa do tempo que o estúdio me consome (ainda tenho o See No Evil para tocar com meu brother James Wignall).

Gosto muito de dividir o que sei e gostava muito de dar aulas. Acho que era um daqueles professores malucos que tacava o apagador na parede para explicar uma força parando a curva, e pulava na classe para explicar as diferencias de curvas de animação. Acredito que temos de dividir o que sabemos e tenho umas ideias de projetos para mais adiante voltar a dar aula.

LL: Quando e como surgiu a ideia de criar o evento See no Evil? Aproveita e conta o segredo de arrumar tempo para organizar um evento e comandar um estúdio. (risos)

TM: O See no Evil está fazendo oito anos em Abril. Wow, como o tempo passa! O evento começou pouco antes disso, com um encontro que fazíamos chamado Mograph Meeting. Basicamente, convidava os freelances que conhecia uma vez por mês para reunir no pub e tomar uma cerveja para pôr o papo em dia.

Como sou estrangeiro aqui (e no começo dos anos 2000 não tinha internet para procurar trabalho ou assistir referências), sentia a necessidade de encontrar mais pessoas da área e bater papo. E essa vontade de descobrir mais sobre o mercado de Londres me fez começar esse grupo. Lembro que fiz no natal um Christmas Special, em que mudei a reunião de lugar – ao invés do pub-, peguei um táxi e levei minha TV e DVD Player para que todos pudessem passar seu showreel e mostrar uns aos outros… Bons tempos hehehe

Em um desses encontros, conheci o James que me ofereceu ajuda para desenvolver o evento e aí criamos o See No Evil. Os primeiros dois shows não tinham palestrantes, mas depois começamos com o formato que é hoje. Nosso primeiro evento teve em torno de 20 a 30 pessoas, e hoje em dia passamos de 300 pessoas sendo completamente free. Quero filmar o See no Evil direito pra colocar online e quem sabe fazer um evento grande de dois ou três dias com ingresso e tudo mais.

Tempo é uma coisa foda e vale ouro, isso foi o motivo de parar com as aulas, pois tocar um estúdio e o See No Evil, estava muito puxado e acredito que temos que viver bem e curtir nosso tempo livre e não só trabalhar.

LL: Quais são as maiores dificuldades em coordenar e trabalhar em equipe num projeto de animação?

TM: Acho que a maior dificuldade é fazer com que a equipe chegue no resultado que quero, no tempo que temos e com a grana que temos. Como sou freak control, sempre acho mais fácil fazer o trampo eu mesmo do que explicar para as pessoas. Mas com os anos fui obrigado a aprender a dirigir o time e tirar o melhor do trabalho

LL: Que diferenças e similaridades você percebe entre o mercado brasileiro e a indústria internacional?

TM: Acho que o Brasil tem um mercado legal, mas ainda está muito atrás do mercado internacional, ou mesmo de Londres. Temos muitos profissionais bons aí, mas a mentalidade do cliente, e às vezes do pessoal da área, tem que melhorar muito. Tem de existir confiança entre cliente e designer para ter um projeto bom. E também acho que comunicação e respeito aos prazos são muito importante, coisa que às vezes não vemos nos projetos que orçamos no Brasil.

LL: Alguma dica pra o Motion Designer brasileiro que aspira a trabalhar internacionalmente?

TM: Tem muita gente boa aqui fora e conseguir um visto de trabalho não é uma coisa fácil – está cada vez mais difícil. Acho que a pessoa tem que focar no que quer e nos seus projetos, principalmente projetos pessoais que são os que a gente se destaca. Tenha um diferencial, seja diferente e ofereça algo a mais. Seja você mesmo, pois já temos muito do mesmo.

LL: O que o inspira e motiva a levantar da cama todos os dias?

TM: Ver coisas novas, conhecer gente nova, viajar, correr atrás para fazer o estúdio crescer em qualidade de trabalho e chegar aonde quero. Agora com uma filha nova, vê-la crescer e poder dar uma boa educação e vida para ela.

LL: A indústria de Motion Design está fervendo de talentos, mas pra você quem se destaca dentre tantos?

TM: Nossa, tem muita gente boa por aí, mas como não sou tão focado só em Motion Designers, vou falar uns em Motion/Animation. Curto muito o trabalho do Ariel Costa, que já foi entrevistado pelo Layer Lemonade, garoto com talento; o Guilherme Marcondes, Vinicius Costa, Burcu & Geoffrey são fodas; Marc Craste e também o Grant Orchard (ambos do Studio AKA); Johnny Kelly da Nexus Productions e o James Wignall que faz See No Evil comigo.

LL: Quais os futuros planos do Cookie Studio? Que novidades podemos esperar de vocês?

TM: 2016 foi um ano com bastantes projetos legais e acabamos de lançar o nosso filme novo dos seis anos do Cooke Studio. O plano desse ano é continuar puxando a qualidade dos trabalhos e tentar aumentar um pouco a equipe até o fim de 2017. Além disso, temos algumas animações novas para mostrar da série da Cookie Idents, e temos planos para uns projetos maiores que espero revelar depois do meio do ano.

 

Rapidinhas:

 

LL: Ctrl+S ou Auto-Save?

TM: Sou old School. Ctrl+S o tempo todo, mas deixo o auto-save como garantia.

LL: Com gradiente ou sem gradiente?

TM: Gradiente voltou à moda né? hehehehe

LL: 24fps ou 30fps?

TM: Ainda bem que na Europa é Pal e trabalhamos em 25fps, pois 30fps para animação é bem feio.

LL: Shape layer ou Solid Layer?

TM: Sou da época que não existia shape layers, mas misturo muito os dois hoje em dia.

LL: Limonada geladinha ou cerveja geladinha?

TM: Sempre Limonada, não curto cerveja hehehe

Esse foi Thiago Maia, senhoras e senhores! O Layer Lemonade agradece imensamente a entrevista e deseja tudo de melhor para o Cookie Studio!

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