Sobre Linguagem e Design

Finalmente rolou o Anymotion 2019! 

Uma das minhas palestras favoritas foi a do Marcos Vaz, a qual me inspirou a escrever este artigo.

Durante sua fala, Marco Vaz deu uma aula de semiótica! Irei compartilhar o que aprendi com ele e transmitir um pouco do conhecimento para vocês. 

Semiótica é mesmo importante?

Semiótica, resumidamente, é uma disciplina que estuda o significado das coisas. Tive essa disciplina na faculdade de Design e, normalmente, era uma aula que gerava sono em todo mundo. Geralmente isso acontece quando os alunos sentem que aquele conhecimento vai ter pouca utilidade prática na vida profissional. Porém, Marcos Vaz provou que isto é um equívoco (ou pelo menos deveria ser).

Tudo ao nosso redor pode ter ou receber algum significado. O nosso sentimento ao ver uma escultura de um santo católico é bem diferente ao ver qualquer outra escultura – principalmente se você é católico. Nós sabemos (e sentimos) que uma figura religiosa tem um significado transcendental quando se é religioso.

Mas significados também podem ser criados. Quando Marcel Duchamp colocou um mictório em um museu, referindo-o como arte, causou muita discussão sobre o que é (e o que não é) arte. Mas o simples fato de o mictório estar no museu entre outras artes, e ter causado tanta polêmica, significou mais do que o mictório comum que você utiliza no banheiro. Gostando ou não, é preciso admitir que aquele objeto deixou de ser um simples mictório.

Outro exemplo, são os símbolos que, por causa do Nazismo, passaram a ter um significado terrível. O bigode de Charles Chaplin, conhecido em sua época como “bigode escova de dente”, passou a ser conhecido como o “bigode de Hittler” depois da tragédia do holocausto.

A própria Suástica, símbolo do Nazismo, era, originalmente o símbolo do Budismo em países asiáticos. Mesmo a versão nazista sendo um pouco diferente por ter uma rotação de 45º, o símbolo teve que parar de ser usado nestes países, já que passou a ter uma conotação muito negativa.

Semiótica e comunicação

Motion Design é comunicação e, portanto, somos criadores de sentidos e significados. Entender como a semiótica é aplicada no audiovisual é importante para conseguir adicionar esta camada simbólica aos nossos projetos e assim, conseguir criar uma comunicação mais eficiente.

Marcos Vaz começa falando sobre cores. Cores são poderosas ferramentas de comunicação e geração de significado. Ao ver as cores vermelha e amarela lado a lado, a associação com o Mc Donalds ou a Master Card é imediata. Marcas fortes agregam sentido a combinações de cor.

E o significado das cores pode ser universal. Em qualquer lugar do mundo um semáforo de trânsito é entendido da mesma forma. As cores verde, amarelo e vermelho vão ter sempre o mesmo sentido. Mesmo assim, é possível criar significados diferentes para as luzes do semáforo, dependendo de seu uso.

A imagem acima é uma cena do filme do Spider-Man. É uma cena tensa em que o vilão, que está dirigindo o carro, está prestes a descobrir que Peter Parker é a identidade secreta do Homem-Aranha. As cores do sinal são refletidas em seu rosto e, quando a luz está vermelha, o personagem está bastante nervoso. Em seguida há um momento de “eureka”, quando ele aparentemente descobre a verdade sobre o herói, e a luz fica verde.

Algumas pessoas podem pensar que isso é simplesmente uma coincidência, que não existiu uma intenção por parte do diretor, mas na verdade, todas estas coisas são minuciosamente calculadas e propositais. Mas o grande insight disso tudo é o seguinte:

Mesmo que você não note conscientemente este tipo de detalhe, o seu cérebro nota.

O nosso cérebro é muito bom para entender símbolos, mesmo de maneira inconsciente. E por isso é tão importante sabermos usá-los bem em nosso trabalho.

Conceituação dos trabalhos

A grande conclusão que tirei da apresentação do Marcos é sobre como é importante à etapa de conceituação de um projeto. É nesta etapa que apresentamos e explicamos os elementos simbólicos que vamos utilizar no projeto.

Segundo Marcos Vaz, o nível dos trabalhos nos Estados Unidos é sempre altíssimo. Como fazer com que seu projeto se destaque para, por exemplo, ganhar uma concorrência, em um ambiente em que todos são bons?

A resposta é essa: construindo uma justificativa conceitual melhor do que a dos outros candidatos. O conceito e o raciocínio por trás das decisões estéticas são tão importantes quanto encher os olhos do cliente com um render lindo e maravilhoso!

A imagem de capa deste artigo é do projeto NBC Post Game Live do Marcos Vaz. Muito obrigado, Marcos pelo conhecimento que gerou este artigo!

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