Cobertura do OFFF 2017 – 1º Dia / Layer Lemonade + MOWE

Nota do Layer Lemonade: O Layer Lemonade convidou Felippe Silveira, da MOWE Studio, para relatar sua experiência na edição 2017 do festival OFFF. Com viajem marcada para Barcelona, Felippe aceitou de bom grado compartilhar os três dias de evento, mostrando os prós e contras de fazer essa viajem. Essa é o primeiro artigo de três.

Fui convidado pela galera do Layer Lemonade para trazer para vocês um pouco da experiência e do aprendizado que se obtém em eventos como o OFFF. Para retratar tudo que se passa lá, criei uma série de 3 artigos falando de cada um dos 3 dias do evento.

OFFF 2017 – Dia 1

Já faz muito tempo que o OFFF Festival é um dos pontos altos do meu ano. Ele não é apenas uma conferência, é um lugar para se obter inspiração e te deixar motivado a trabalhar mais e mais.

Se você não sabe do que estou falando, o OFFF Festival é uma conferência que começou em Barcelona a 17 anos atrás. Existem várias edições no mundo, tendo ocorrido já no Brasil, porém o evento principal acontece em Barcelona, aonde tudo começou. A MOWE Studio esteve lá imersa no festival e nós trouxemos a melhor parte dele para os leitores do Layer Lemonade. Ele não é um evento exclusivo de Motion Design, e exatamente por isso o considero tão valioso. Você irá entender mais à frente.

Deixe-me explicar rapidamente como este evento funciona. Das 11h da manhã até além das 9h da noite, rolam diversas palestras e grandes designers e estúdios se apresentando. Existem dois palcos onde se pode assistir as palestras, rolando 1 palestrante a cada hora em cada um dos palco durante 3 dias de evento. Designers e criativos de toda Europa e de todo o mundo vem para esse incríveis 3 dias de imersão.

Sim, você leu corretamente. Ele acontece na Europa, bem longe de nós aqui no Brasil. O objetivo final dessa série de artigos é motivar a todos e apresentar o quanto vale a pena investir ir ao OFFF e também em diversas outras conferência ao redor do mundo e principalmente no Brasil.

De volta à nossa programação, vou guiá-los através de alguns palestrantes de destaque que separei e que pude apreciar neste primeiro dia.

Outro Studio

O início do OFFF se deu com este estúdio que tem um nome curioso para nós que estamos no Brasil. Não, este Outro não significa o que você está pensando. Este “Outro” vem de “Intro”, e seria aquela animação que normalmente “fecha” algum vídeo. Eu pessoalmente tive a experiência de visitar este estúdio no passado. Eles são de Barcelona e vem produzindo grandes trabalhos por lá. O Outro Studio desenvolveu o Opening Title do OFFF que é um vídeo que sempre acontece todo ano para “inaugurar” o evento.

Uma das primeiras coisas que foram faladas, foi sobre Low-Budget Projects(projetos de baixo orçamento), que ajudam a aumentar suas criatividades e ao mesmo tempo os deixam pobres. Brincadeiras à parte, o objetivo foi de passar a ideia de que você não precisa esperar por aquele projeto cheio da grana, time enorme, e o cliente perfeito para fazer algo bom. De fato, eles já aceitaram projetos sem nenhum budget, algum deles com apenas $30 euros, e mesmo assim conseguiram fazer um video clip com isso. É muito mais sobre investir em seu trabalho e nas coisas em que você acredita.

Existe uma dura realidade de que isso não traz nenhuma sustentabilidade financeira e que você precisa se apoiar em outros projetos para estes momento, ou até ter algumas economias que te permita dedicar as horas necessária para isso. Entretanto, estes projetos são aqueles que nós designers podemos colocar nossa identidade, fazer o que quisermos e que vai de fato traduzir aquilo pelo qual seremos conhecidos.

“Projetos pessoais nos ajudam a crescer e faz com que clientes vejam nosso trabalho” — Outro Studio

O Outro Studio tem algo que achei bem interessante e que eles chamam de SFFPP ou Small Fast Fun Personal Project (Projeto Pessoal Pequeno, Rápido e Divertido). Estes são os projetos em que normalmente são definidas algumas horas ou apenas 1 dia para que sejam feitos. O objetivo é pensar em um projeto capaz de ser feito nesse pequeno tempo e daí produzi-lo sem ir além desse escopo, simplesmente fazendo o trabalho e lançando ele para o mundo.

Uma última coisa sobre a Outro é que eles mencionaram projetos nos quais eles foram contratados para fazer “infográficos” e só depois eles entenderam que o cliente estava realmente buscando por um projeto de Motion. Este projeto específico não apenas acabou neste trabalho de Motion, mas eles acabaram por fazer uma grande parte de branding como resultado disto. Tudo isso para dizer que não é apenas sobre como você “serve” o cliente, mas também em como você se apresenta e se posiciona. O cliente chegando até você com um projeto não significa que aquilo é exatamente o que ele precisa. Você tem que ir a fundo, se apresentar como realmente todo designer é: um provedor de soluções. É preciso entender as reais necessidades de seus clientes e ajudar eles a solucionarem isto da melhor maneira possível.

Às vezes, uma animação não é o melhor para seu cliente no momento. Se você o ajuda a visualizar isto e providencia o que é a melhor solução, eles não irão apenas ficar felizes com sua direção, mas também sempre pensarão em você quando eles precisarem de algo para suas empresas.

Adam J. Kurtz

Adam J. Kurtz e alguns de seus trabalhos – Foto by Felippe Silveira

Adam J. Kurtz tem um trabalho que é bem simples em termos de execução, mas que é brilhante em termos de conceito. São apenas notas simples mas que são possíveis de se relacionar com várias pessoas. Ele começou escrevendo essas notas e postando elas em suas redes sociais até que ele começou a produzir alguns livros e começou a vendê-los através do Kickstarter.

Além disso, em basicamente todos seus projetos ele tenta transformar isto em algum produto. Este pode ser em forma de balões, uma caneca, uma camiseta, e até mesmo um cinzeiro.

Algo que ele mencionou sobre quando estava produzindo um de seus livros foi que ele definiu uma meta de uma página por vez/dia. Ele iria simplesmente sentar, desenhar ou escrever algo numa folha de papel por um determinado tempo e seria isto. Sem se preocupar sobre perfeição, o resultado final, ou outras coisas bobas. Ele estava mais preocupado sobre ser ele mesmo e dizer o que ele tinha em mente.

Ele falou bastante sobre sentimento e como usando sentimentos verdadeiros em seus trabalhos o ajudou a alcançar o sucesso. Além disso, você precisa ser genuíno, interessante e empolgante. Não tente copiar os outros. Faça o seu trabalho para você mesmo. Marcas possuem dinheiro e elas estão dispostas a investir este dinheiro em pessoas que elas consideram genuínas. Descubra seu caminho e se divirta nesse processo. É assim que você evolui o seu trabalho.

Kelli Anderson

Adobe + Kelli Anderson – foto by Felippe Silveira

Kelli se apresentou após Michael Chaize da Adobe dar uma pequena palestra apresentando o Adobe Sensei e outras novidades. Adobe é sempre um dos patrocinadores do OFFF e eles sempre estão trazendo novidades para as pessoas poderem experimentar no evento. Kelli Anderson já trabalhou com a Adobe mostrando seu espaço e um pouco do trabalho que ela faz. Basicamente ela trabalha com papel. Tudo que é tipo de papel, dobrando e cortando ele para se criar incríveis esculturas e peças.

Kellie Anderson e um pouco do seu trabalho

Papel é um das coisas menos tecnológicas na qual podemos esperar de se trabalhar hoje em dia. Entretanto, trabalho da Kelli é tão incrível que ela consegue atribuir diversas funções à ele. Ela já usou papel como livros pop-up(daqueles que você abre a saem umas estruturas) para se criar estruturas capazes de se tornarem um pequeno planetário, um instrumento, e até mesmo uma câmera fotográfica. Todos eles 100% funcionais.

O importante de se absorver aqui é o fato de que você não precisa se prender à tecnologia para fazer um bom trabalho. Ao invés de tentar simular um determinado efeito, apenas vá e crie este mesmo efeito você mesmo. Use as ferramentas que você tem. Não existe a necessidade de se prender a grandes budgets ou em um determinado equipamento para se fazer um bom trabalho.

Buck

Buck foi a parte alta do primeiro dia para mim. Como para muitos Motion Designers, a Buck é uma grande referência para mim. Se você conhece o trabalho da Buck, você já deve ter visto que eles fazem de tudo dentro de animação, desde o básico do Motion, até 3d e frame a frame. Nesta edição do OFFF, eles apresentaram basicamente alguns de seus projetos de frame a frame, porém o tema de sua palestra foi apenas um: Storytelling.

Como comunicadores que somos, a habilidade de contarmos histórias é o que valida o trabalho que realizamos. Não importa a técnica aplicada, precisamos produzir um trabalho que crie impacto nas pessoas. Buck focou bastante nesta parte e especialmente quanto a criar emoções. Mesmo eles tendo apresentando uns behind the scenes absurdos de frame a frame, estas animações só foram realmente viáveis e totalmente apreciadas após entendermos a história.

Nossas animações criam um impacto no mundo, nas pessoas que trabalham conosco e também nas pessoas que “recebem” nosso trabalho.

“O que torna um trabalho de animação bom não é o uso das técnicas mais incríveis ou do profissional de melhor qualidade, é a história que a animação carrega”.

Esta foi uma mensagem muito forte que a Buck deixou para todos nós e que me fez pensar bastante sobre como eu mesmo defino muitas das coisas em meu trabalho.

Imaginary Forces

 

Trabalho do Imaginary Forces para a série Jessica Jones

Para finalizar o dia, tivemos Imaginary Forces. Eles são bastante conhecidos por seus projetos de titles(aberturas) para inúmeras séries. Eles apresentaram um pouco do processo de alguns de seus trabalhos como Jessica Jones, Black Sails, God of War e Stranger Things. O que mais gostei deles é que eles muita das vezes não apenas desenvolveram a abertura, mas também desenvolveram a identidade da série.

Stranger Things for um grande exemplo disso. A ideia inicial não se parece em nada com o resultado que vemos hoje em dia. Eles apresentaram seu processo, as referências que eles pegaram dos anos 80, todos os livros e filmes deste período que tinham uma linguagem semelhante, e até mesmo como eles desenvolveram a tipografia que observamos hoje em dia.

Foi tudo muito centrado no processo e em como tudo evolui. Basicamente todas as referências que eles mostraram estava relacionado à outras forma de design ou arte, como fotos, esculturas, etc.

“Nosso trabalho não é apenas influenciado por outros projetos de motion, ele é o resultado de tudo aquilo que absorvemos”.

Precisamos entrar em contato com diferentes formas de arte, aprender com isso e se inspirar com aquilo que elas tem à oferecer.

Conclusão

Espero não ter simplesmente bombardeado você com um monte de informação. Estas foram as partes que considerei interessante de compartilhar deste primeiro dia. Todos esses assuntos abordados nos fazem pensar e repensar sobre nosso trabalho, e refletir sobre como podemos aprimorá-lo. Muito disso tudo é sobre a maneira como pensamos e como a gente busca se posicionar em meio ao mercado e ao mundo que nos cerca.

Não se preocupe com o que outras pessoas irão dizer. Apenas faça seu trabalho. Sente em sua cadeira e crie alguma coisa. Crie aquilo que você tem vontade de criar e faça isso de maneira constante. Isto vai te ajudar a desenvolver sua técnica e descobrir seu próprio estilo.

Fique atento para a cobertura do segundo dia do OFFF 2017!


Artigo escrito pelo autor convidado Felippe Silveira.

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