3 estratégias científicas para aumentar sua criatividade

Minha irmã, que é psicóloga, me indicou a leitura deste artigo sobre maneiras cientificamente comprovadas de aumentar sua criatividade. Achei tão legal que quis traduzi-lo e postá-lo aqui no blog!

O artigo original está no site ideias.ted.com e foi tirado do livro The Art of Impossible: A Peak Performance Primer  de Steven Kotler. A ilustração da capa é de Angus Greig.

Espero que curtam tanto quanto eu!

Como você pode hackear sua criatividade?

O termo “hacking” tem má fama. Ele vem do mundo da programação e se refere a alguém que tenta obter controle sobre um sistema de computador, normalmente para um propósito maligno. Mas desde então o significado do termo se modificou, tornando-se uma gíria pop que quer dizer “solução rápida” ou um “atalho”.

Nenhuma dessas definições se aplica aqui. Primeiro, o sistema sobre o qual estamos tentando obter controle é nossa própria neurobiologia. Em segundo lugar, quando se trata de aumento sustentável de desempenho, não há atalhos.

Quando uso um termo como “hackear”, o que estou realmente dizendo é “descobrir como fazer sua neurobiologia trabalhar a seu favor, em vez de contra você.” Essa abordagem tem me levado longe.

Aqui estão três estratégias baseadas na ciência para estimular sua capacidade de apresentar ideias novas e criativas.

Estratégia #1: Faça amizade com seu CCA

Quando os pesquisadores falam sobre criatividade, um tópico frequente é o fenômeno conhecido como insight. Todos nós já sentimos isso – é aquela experiência de compreensão repentina, aquele momento “AHÁ” quando ouvimos uma piada ou resolvemos um quebra-cabeça.

Na virada do século 21, o neurocientista Mark Beeman e o psicólogo cognitivo da Drexel University, John Kounios lançaram luz sobre esse assunto. Eles deram às pessoas uma série de problemas de associação remota – também conhecidos como problemas de insight – e usaram aparelhos para monitorar seus cérebros enquanto tentavam resolvê-los.

Problemas de associação remota são quebra-cabeças de palavras. Os sujeitos recebem três palavras – por exemplo, pine / crab / sauce – e são solicitados a fazer uma coisa: encontrar uma quarta palavra que complemente todas elas. (Nesse caso, a resposta é “apple”, como em: pineapple, crab apple, e applesauce.)

Algumas pessoas resolvem esse problema de forma lógica, simplesmente testando uma palavra após a outra. Outros chegam por meio de insights, o que significa que a resposta certa simplesmente vem à mente. Um punhado de pessoas combina as duas estratégias.

O que Beeman e Kounios observaram foi uma mudança notável na função cerebral dos participantes. Pouco antes de as pessoas visualizarem o problema que resolveriam com o insight, a atividade no Córtex Cingulado Anterior (CCA) de seu cérebro se intensificava. O CCA é uma parte importante do cérebro que lida com a atenção e correção de erros, detectando sinais conflitantes, entre outras atividades.

“Isso inclui a escolha sobre qual estratégia usar para resolver um problema”, diz Kounios. “O cérebro não pode usar duas estratégias diferentes ao mesmo tempo. Algumas são fortemente ativadas por serem mais óbvias. Algumas são apenas remotamente associadas ao problema – ideias remotas. E estas estratégias remotas é que são as criativas. Quando o CCA é ativado, ele pode detectar essas idéias não óbvias e fracamente ativadas e sinalizar ao cérebro para voltar a atenção para elas. Esse é o momento AHÁ. “

Beeman e Kounios descobriram que o CCA age quando estamos considerando ideias inovadoras/inusitadas.

O que levanta uma questão chave: O que aciona o CCA? A resposta é: bom humor.

Quando estamos de bom humor, o CCA é mais sensível a pensamentos e palpites estranhos. Em outras palavras, se um CCA ativo é a condição para o insight, então um bom humor é a condição para um CCA ativo.

O oposto também é verdadeiro: enquanto o bom humor aumenta a criatividade, o mau humor amplifica o pensamento analítico. O cérebro limita nossas opções ao testado e comprovado – o lógico, o óbvio, o que já sabemos que funciona.

Quando estamos de bom humor, nos sentimos seguros e protegidos, e então podemos dar ao CCA mais tempo para prestar atenção aos sinais mais fracos do cérebro; também estamos mais dispostos a correr riscos. Isso é importante porque a criatividade é sempre um pouco perigosa. Novas ideias geram problemas porque podem ser totalmente erradas, difíceis de implementar e ameaçadoras para o sistema.

Mas isso também significa que pagamos uma penalidade dupla pela negatividade. Um mau humor não limita apenas a capacidade do CCA de detectar esses sinais mais fracos; também limita nossa disposição de agir de acordo com os sinais que detectamos.

Enquanto o bom humor é o ponto de partida para uma criatividade intensificada, uma prática diária de gratidão, de atenção plena, exercícios regulares e uma boa noite de descanso continuam sendo a melhor receita para aumentar a felicidade. Todas as quatro práticas são impulsionadoras da criatividade e aumentam muito nossa habilidade de transformar o novo em algo útil.

A gratidão treina o cérebro para se concentrar no positivo, modificando a nossa tendência de sempre nos concentrar nos lados negativos. Já que estamos acostumados com o negativo, o positivo costuma ser o diferente. Ser grato, portanto, aumenta nossas chances de criar algo novo.

Mindfulness ensina o cérebro a ficar calmo, focado, ampliando a atenção. Também nos torna menos reativos, ou seja, coloca um pequeno espaço entre o pensamento e o sentimento e dá ao CCA mais tempo para considerar alternativas diferentes e mais amplas.

Fazer exercício reduz os níveis de estresse, liberando o cortisol de nosso sistema enquanto aumenta os compostos neuroquímicos que nos fazem sentir bem, incluindo serotonina, norepinefrina, endorfinas e dopamina. Isso diminui a ansiedade, aumenta nosso bom humor e aumenta a capacidade do CCA de detectar possibilidades mais remotas. Além disso, o tempo gasto com exercícios funciona como um período de incubação de ideias.

Uma boa noite de descanso oferece benefícios adicionais. Ele aumenta os níveis de energia para enfrentar desafios. A sensação de segurança resultante disso melhora nosso humor e aumenta nossa disposição de assumir riscos, e ambos ampliam a criatividade. Além disso, o sono é o período de incubação mais importante de todos. Quando dormimos, o cérebro tem tempo para encontrar todos os tipos de conexões ocultas entre as idéias.

Gratidão, atenção plena, exercícios e sono não são negociáveis ​​para um desempenho satisfatório da nossa criatividade. É a chave. Quando a vida fica complicada, essas quatro práticas normalmente são as mais prejudicadas no nosso dia-a-dia. Quando isso acontecer, tente se concentrar nelas para continuar criativo. De novo: elas são inegociáveis.

Estratégia #2: compreender a importância do “não-horário” e do seu tempo sozinho

“Não-horário” é o meu termo para aquele grande vazio entre as 4 da manhã (quando começo minha sessão matinal de redação) e as 7:30 da manhã (quando o resto do mundo acorda). Este não-horário é uma escuridão total que só pertence a mim.

As preocupações urgentes do dia ainda não apareceram e então há tempo para o maior luxo de todos: a paciência. Durante esse horário, quem se importa se eu levar duas horas fazendo uma tarefa simples?

A criatividade precisa desse não-horário.

Os prazos muitas vezes podem ser estressantes. A pressão força o cérebro a se concentrar nos detalhes, ativando o hemisfério esquerdo e te atrapalhando a enxergar o “todo”. Pior, quando pressionados, muitas vezes ficamos estressados. Estamos descontentes com a pressa, que prejudica nosso humor e aperta ainda mais nosso foco. Este tempo limitado pode ser criptonita da criatividade.

Precisamos incluir o não-horário em nossas agendas. Ele é o tempo para devaneios e distanciamento psicológico. Sonhar acordado permite que nosso subconsciente encontre associações remotas entre ideias. O não-horário também nos distancia um pouco de nossos problemas. Isso nos permite ver as coisas de várias perspectivas, inclusive considerando pontos de vista de outras pessoas. Se não tirarmos um tempo para nos afastar das nossas emoções e fazer uma pausa, então não teremos o luxo de ver várias possibilidades diferentes.

E não é apenas um não-horário – também é o tempo de ficar consigo mesmo.

A solidão é importante. Certamente, muita criatividade requer colaboração, mas a fase de incubação exige o oposto. Fazer uma pausa no bombardeio sensorial do mundo dá ao seu cérebro ainda mais motivos para vagar por cantos remotos. Um estudo de 2012 conduzido por psicólogos da Universidade de Utah, por exemplo, descobriu que depois de quatro dias sozinhos na natureza, os indivíduos tiveram uma pontuação 50% melhor em testes padrões de criatividade.

Tente começar o dia com 90 a 120 minutos de concentração ininterrupta. É um pequeno período, mas que paga dividendos significativos a longo prazo.

Estratégia #3: Pense dentro da caixa

“Pense fora da caixa” é como diz o ditado, mas nós devemos fazer o contrário. Restrições impulsionam a criatividade – como o grande cantor de Jazz, Charles Mingus, certa vez explicou: “Você não pode improvisar sobre nada, cara; você tem que improvisar sobre alguma coisa.”

Em estudos realizados na Rider University sobre a relação entre limites e criatividade, os alunos receberam oito substantivos e foram solicitados a usá-los para escrever poeminhas rimados (o tipo que aparece em cartões de felicitações). Outro grupo não recebeu substantivos, foram apenas solicitados a escrever os poemas. O trabalho de ambos os grupos foi, então, julgado quanto à criatividade por um painel independente de especialistas.

Repetidamente, os participantes do grupo que começou com a restrição de oito substantivos superaram o outro grupo.

A questão é que às vezes a página em branco é branca demais para ser útil. É por isso que uma das minhas regras fundamentais no trabalho é: sempre saiba seus começos e seus finais. Se eu tiver essas duas pedras angulares no lugar, tudo o que tenho que fazer – em um livro, um artigo, um discurso – é simplesmente ligar os pontos. Sem pontos para conectar, posso ficar preso ou perder tempo vagando em territórios tangenciais (o que ajuda a explicar por que meu primeiro romance demorou 11 anos para ser concluído).

Advertência importante: muitas pessoas acreditam que as restrições de tempo – ou seja, prazos – são um limite que permite a criatividade. Talvez. Talvez não.

Anteriormente, eu disse que sentir-se pressionado pelo tempo é a chave para estimular a criatividade, e isso continua sendo verdade. No entanto, também é verdade que os prazos podem evitar que projetos criativos se arrastem indefinidamente.

Basta definir prazos suficientemente longos para que você possa incluir longos períodos de não-horário em sua programação. Os prazos criativos devem ser difíceis o suficiente para fazer você se expandir, não o suficiente para fazê-lo estourar.

Não deixe de assistir ao TEDx Talk do autor deste texto!

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