Cobre pouco pelo seu Motion

Você não leu errado! Este artigo vai contradizer parte do que eu sempre escrevi aqui no blog. Mas acho necessário trazer uma perspectiva diferente sobre preços no nosso mercado. A intenção, como sempre, é gerar discussão.

A nossa área é elitizada. Precisamos de computadores e softwares caros para trabalhar. Além disso, é necessário gastar bastante tempo estudando e, apesar de haver muito conteúdo gratuito online, investimentos em cursos pagos podem facilitar o processo. A vantagem é que não é essencial passar 4 anos na faculdade (embora eu ache que possa ser uma boa ideia).

Mesmo assim, eu acredito que a área do motion tem potencial para ser a mudança de vida de muita gente. A barreira de entrada é relativamente baixa – ninguém lhe pedirá um diploma, é possível aprender sozinho e ninguém precisa de uma super máquina no começo. Quem sonha em viver de “arte” e fazer o que ama vai encontrar no Motion uma comunidade aberta e pessoas dispostas a ajudar.

Quando se trata de precificação, tudo é muito relativo. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e, enquanto 200 reais pode ser um valor muito baixo para algumas pessoas, pode ser muito para quem ganha um salário mínimo ou está desempregado. Portanto, não dá pra dizer que cobrar 200 reais por um trabalho é equivalente a ser explorado ou que prejudica o mercado. Existem muitas pequenas empresas que não teriam condições de contratar um estúdio, e elas podem ser uma boa fonte de receita para quem está começando.

Nunca me esqueço de uma vez em que uma pessoa me pediu opinião sobre o quanto ela deveria cobrar por um determinado briefing. Eu disse o valor que eu acreditava ser justo – era muito mais do que a pessoa pretendia cobrar. Ela seguiu meu conselho e o cliente achou caro demais. Não fechou o projeto. E isso me fez pensar: o que é melhor? Cobrar o valor que o cliente está disposto a pagar ou perder o job e não ganhar nada?

É claro que há uma linha tênue entre a necessidade de gerar algum lucro e aceitar a exploração, porém, este discurso de que cobrar pouco “prostitui” o mercado pode prejudicar motions designers iniciantes que, num certo momento da carreira, precisam ver algum retorno sobre todo aquele tempo e dinheiro investido aprendendo animação.

Outro fantasma que ronda nossas cabeças é a ideia de que cobrar pouco é um círculo vicioso e que é impossível aumentar seu preço depois. Não é verdade. Você sempre estará estudando e evoluindo e, portanto, o valor do seu trabalho sempre vai aumentar. Seus clientes precisam entender isso.

Cada realidade é diferente. É por isso que se aconselhar sobre precificação com outras pessoas é complicado. Quinhentos reais tem um valor muito diferente para um pai de três filhos e para alguém que não precisa pagar aluguel. Acredite menos na opinião de outras pessoas e tabelas que você vê por aí. O mais importante é olhar para sua realidade e pensar: o quanto eu estou disposto a cobrar por esse job? Qual valor que aquela grana tem pra mim?

A missão do Layer Lemonade é tornar o Motion uma área acessível. Temos uma profissão mágica, sem barreiras, com possibilidades infinitas. Enquanto uns tem o sonho de trabalhar para a Buck, muitos outros tem o sonho de simplesmente viver disso. Viver de arte. Viver fazendo o que ama. Isso é o que realmente importa.

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