Fatores que me ajudaram a conseguir um visto de trabalho como Motion (parte 1)

Esse é o primeiro artigo que escrevo aqui da minha nova casa da Inglaterra. Eu estou há  mais de um ano trabalhando remotamente para um estúdio daqui, a MediaNerd, e finalmente, no final de novembro de 2020, meu visto saiu.

Infelizmente, vivemos num país em que esse é o sonho de muitos artistas e motion designers: conseguir um visto de emprego e cascar fora do Brasil. É claro, vou usar meus artigos no Layer para compartilhar minha experiência e falar dos fatores que me ajudaram a conseguir meu visto. Portanto, esse é o primeiro de muitos textos em que vou contar tudo sobre a minha vinda pro UK.

Vale lembrar que tudo que eu escrevo tem relação com a minha situação específica e minha relação com o Reino Unido. Para outros artistas, países ou empresas, tudo pode ser totalmente diferente. Tenho certeza que você pode ter características diametralmente opostas às minhas e ainda assim conseguir um visto de trabalho e ir trabalhar fora.

Estes, portanto, são os fatores que me ajudaram, mas estão longe de serem regras.

Empresa pequena

Sempre pensei que só empresas grandes patrocinavam vistos de trabalho. Pode ser que seja mais comum para as grandes, afinal, no Reino Unido, as empresas precisam receber uma autorização do governo para se tornarem possíveis patrocinadoras. Só isso já gera burocracia e custo para empresa.

No meu caso, a MediaNerd não era uma patrocinadora autorizada pelo governo quando decidiu me contratar. Ela teve que se registrar e passar por um certo procedimento para ter o direito de patrocinar algum visto. Este foi um dos fatores que fizeram com que meu visto demorasse muito tempo pra sair.

Por outro lado, eu percebi que o fato da MediaNerd ser uma empresa pequena (por volta de dez funcionários hoje) foi um facilitador. Empresas assim são mais ágeis e flexíveis, os donos são mais acessíveis e rapidamente a gente se torna “amigo” da equipe toda. Mas o fator mais importante que me ajudou, foi o fato de eu rapidamente me tornar uma peça-chave dentro da equipe. Em equipes grandes, é bem mais fácil ser “só mais um funcionário”. Na minha empresa, sou só eu e mais uma pessoa fazendo motion. Isso significa que eu faço mais projetos sozinho, tenho mais responsabilidades e, consequentemente, sou uma peça mais importante pra empresa.

Antes da MediaNerd, já tive experiências internacionais incríveis trabalhando com empresas pequenas, principalmente Startups. Se você está buscando uma oportunidade no exterior, eu recomendo que você fique de olho nos estúdios pequenos. Um site de vagas que sempre recomendo é o Angel List. É o melhor lugar para encontrar empregos em Startups do mundo todo. Mas se você conseguir se tornar um freelancer recorrente para algum estúdio pequeno e eles perceberem que você seria uma boa aquisição permanente para a equipe, suas chances de conseguir um visto de trabalho serão significativas.

Generalismo

Eu sempre advoguei a favor do especialista. Afinal, se você é muito bom em uma só coisa e é notado por isso, você pode cobrar mais caro e o seu número de competidores diminui. Porém, no caso do meu visto, eu tenho certeza que ser um generalista foi um fator crucial para a empresa decidir me contratar.

Um artista generalista quase nunca vai ficar ocioso. Sempre haverá um projeto em que ele poderá contribuir. No meu caso, sou designer, ilustrador, animo personagens e sei um pouquinho de Cinema 4D. Para uma empresa pequena como a MediaNerd, isso é crucial. Isso entra naquele fator de “se tornar uma peça fundamental” para a equipe. O generalista sempre será encaixado em algum projeto.

Na minha primeira entrevista, antes de começar a trabalhar para eles, lembro de um projeto do meu portfólio que chamou a atenção. É este projeto abaixo. Ele é um trampo que fiz sozinho, desde o design até a finalização, e tem um mix de técnicas e softwares usados. Tem design, ilustração, personagem e uma combinação de 2D e 3D. Quando viram isso, eles conseguiram perceber o quão versátil eu era.

Faculdade

Existe uma grande discussão no nosso mercado sobre a necessidade de se fazer faculdade para se tornar um motion designer. A maioria dos meus mestres nunca fez um curso superior e são profissionais incríveis. Acredito que você pode ser um artista incrível sem nunca ter frequentado uma universidade, mas no meu caso, a faculdade foi um fator muito importante para conseguir meu visto.

O meu diploma e a tradução dele pro inglês foram documentos que eu tive que apresentar no processo do visto. Não é que eu não conseguiria o visto sem ter curso superior, mas o fato de eu ter me torna elegível para entrar numa categoria de “profissionais qualificados”. Isso fez com que fosse mais fácil a minha aprovação pelo governo britânico.

É por isso que o “cargo” no meu visto é “Diretor Criativo de Motion”. O governo tem interesse em trazer profissionais “gabaritados” para difundir o seu conhecimento dentro do país e, para eles, um diploma de um curso superior é um bom indicativo. Apesar de existirem outros motion designers muito mais qualificados que eu e que não possuem curso superior algum.

Deixem sugestões e perguntas para outros artigos sobre esse tema! Meu objetivo é transformar minha experiência aqui na terra da rainha em informação relevante pra vocês! Até o próximo texto!

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