O design do movimento

É consenso que, ao se declarar Motion Designer, você precisa fazer design e animação. Acontece que um animador que não faz design também é um designer de movimentos. “Design” significa “projeto” e é necessário “projetar” os movimentos de uma peça antes de começar, já que isso nem sempre vem do designer que fez o layout. Na verdade, o design da “arte” e o design do movimento têm muitas coisas em comum. É sobre isso que eu quero tratar nesse artigo.

Lidamos o tempo todo com representações visuais dos movimentos que estamos fazendo: as curvas de animação do after effects mostram de uma forma gráfica o que está acontecendo no motion. E não é atoa que, quando essa curva (principalmente do Value Graph) está fluida e bonita, provavelmente a animação também está.

Veja só o spacing. Espaço é um elemento fundamental pra qualquer tipo de design gráfico e na animação lidamos com ele o tempo inteiro. “Projetar”o Spacing é, inclusive, mais importante que o Timing, pois, na maioria das vezes, o timing já nos é estabelecido no princípio. Normalmente já nos é dado o tempo que aquele vídeo ou cena deve durar e, por isso, não temos muita liberdade para mudar isso. Por outro lado, em relação ao spacing, a liberdade é total, já que com o mesmo timing, dá pra usar spacings totalmente diferentes. E não é nenhuma viagem relacionar spacing em animação com os espaços e grids usados nos projetos de design gráfico.

Alguns conceitos importantes de design são os mesmos que usamos em animação. Aqui estão alguns exemplos!

Hierarquia

Se tudo na tela se movimenta com a mesma intensidade, nada é importante. Hierarquia, em design gráfico, serve para guiar o olhar do usuário da informação mais importante até a menos importante. Sempre precisamos de um elemento protagonista na cena, mesmo que não seja animação de personagem. Pra isso, o movimento deste elemento tem que contribuir com o seu destaque.

Movimentos rápidos chamam mais atenção que movimentos lentos. Dá também pra transferir energia de um elemento pra outro, e consequentemente, mudar a hierarquia da cena. O mais importante é não deixar com que dois objetos disputem em pé de igualdade pela atenção do usuário. Nossos olhos nunca podem ter dúvida sobre para onde ir.

Contraste e Ritmo

Animação é ilusão da vida e a vida é cheia de altos e baixos. Portanto, não queremos nunca que nossas peças de motion sejam lineares e constantes. É importante haver contraste no movimentos. Os elementos precisam varias entre movimentos rápidos e curtos, lentos e suaves e ter diferentes intensidades.

A comparação entre elementos é que cria o contraste. Isso é verdade tanto para animação quanto para design. A diferença é que, em motion, nós podemos adicionar contraste a um único objeto, quando ele muda de tamanho e velocidade. Nesse caso, a comparação entre diferentes momentos da animação é que vai criar o contraste.

Coerência

É sempre interessante misturar estilos e técnicas diferentes, mas a coerência da animação tem que ser preservada. Eu sempre digo que o estilo do design é que vai ditar o estilo do movimento. É fácil ver isso quando falamos de personagens. Ilustrações mais orgânicas “pedem” uma animação mais orgânica. Por outro lado, um personagem mais geométrico e estilizado costuma funcionar bem com uma animação menos fluida e mais dinâmica.

Boa parte dos 12 princípios da animação têm como objetivo preservar a coerência dos movimentos que criamos com o mundo real para que eles sejam mais agradáveis aos olhos. Temos que usar ease in e ease out porque nada na natureza pára de repente, antecipation é um princípio que obedece a certas leis da física, e assim por diante…

No design, quando escolhemos fontes e cores para um projeto, queremos que todos os elementos juntos façam parte de um mesmo “universo”. É pra isso que identidades visuais de marca são construídas. É parte do trabalho do animador, portanto, criar a “identidade do movimento” no projeto que está trabalhando. E ela precisa ser coerente o tempo todo. Misturar um movimento fluido com um movimento robótico pode ser uma decisão estilística, assim como podemos usar uma fonte serifada e sem serifa juntas. Mas ainda assim é importante observar a coerência do conjunto da obra.

Qual outra relação você consegue ver entre design gráfico e o design de movimento que nós, animadores, criamos? Coloca nos comentários!

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