Visto de trabalho e crise de identidade

Já faz três meses que me mudei com visto de trabalho para a Inglaterra para trabalhar numa produtora como motion designer. Apesar de eu ter trabalhado com eles por mais de um ano remotamente no Brasil antes de me mudar, a minha experiência com o inglês está sendo muito diferente agora que comecei a frequentar o estúdio (já que o número de casos na Inglaterra está bem reduzido). Isso tem gerado uma crise de identidade! Já explico!

Depois de um certo tempo falando outro idioma, uma coisa fica bem clara: você não é a mesma pessoa quando fala outra língua. Isso porque grande parte da nossa identidade, do nosso jeito, da nossa personalidade, vem das expressões que a gente usa e de como a gente se comunica verbalmente.

Um exemplo que deixa isso claro é a palavra que você usa para falar com amigos. Eu costumo chamar meus amigos de “mano”, e isso diz bastante sobre minha personalidade e minha bagagem cultural. Em inglês, eu poderia falar “man”, “dude”, “mate”, “bro”. Se for seguir ao pé da letra, talvez o mais parecido seria este último, já que “bro” vem de “brother” e “mano” significa irmão (hermano). Mas eu não me sinto à vontade usando nenhum desses pronomes. Nenhum deles parece eu falando. Meus colegas usam muito “mate”, mas por todos eles serem europeus e serem muito diferentes de mim, eu tenho um sentimento de que não combina o Guilherme Jorge chamando alguém de “mate”.

Algumas palavras são impossíveis de usar como “gambiarra”. É muito difícil não usar essa palavra quando você trabalha com After Effects, um programa em que você faz isso o tempo todo. Outro dia, queria falar com um amigo “mas mano, isso é frescura!” – travei. Não tenho nem ideia como dizer isso em inglês. Sempre fui muito expressivo, e ver minha capacidade de comunicação tão limitada é algo que me incomoda bastante. O sentimento de sempre é: “esse não sou eu”.

Eu, certamente, não tenho nenhuma “facilidade” quando se trata de idiomas. Foi difícil aprender, meu sotaque é muito carregado e eu sei o quanto é difícil “soar inteligente” com um sotaque tão forte. É claro que o conteúdo do que eu digo é o que deve valer mais, mesmo assim, seu sotaque e jeito de falar fazem com que as pessoas tenham certas percepções sobre você e te dêem mais ou menos credibilidade.

Eu sei muito bem que falar uma língua com sotaque diz pras pessoas que você fala a língua delas muito melhor do que elas falam a sua. Sei muito bem que a maioria dos meus colegas não sabem um segundo idioma e que por isso eu tenho uma habilidade que eles não tem. Mas saber disso tudo não reduz minha insegurança e desconforto com essa situação.

É claro que estou só no começo, que falar uma segunda língua é extremamente difícil e que ainda tenho tempo de encontrar o meu “eu” nesse novo idioma. Mas este artigo é pra quem está no caminho para ser contratado por uma empresa estrangeira e provavelmente vai passar pelo que estou passando. No final, o importante é aceitar quem você é, se orgulhar da sua cultura e desencanar de tentar ser e soar como os nativos daquele país. Não importa quanto tempo você fala inglês, sempre existirá um abismo enorme entre seu inglês e o inglês de um nativo. E isso não é e nem deve ser tratado como um problema.

Lembrando que na próxima terça-feira, dia 6 de Agosto de 2021, eu e a Bibi Politi (@bibipoliti_art) vamos fazer uma live no Instagram dela pra falar sobre nossa experiência com a língua inglesa para conseguir e trabalhar com clientes no exterior! Vamos divulgar o horário logo mais pelos nossos stories! E se você está lendo isso depois de terça, a live vai provavelmente estar salva no IG TV da Bibi! Cola com nós!

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