Os problemas do mercado e nossa posição diante deles

A nossa última live do Mograph News gerou muitos debates interessantes. Muitas das ideias deste texto vieram de conversas com o Leo Mazzei (@mazzei.motion) que é um motion designer muito foda de São Paulo.

O Leo me fez pensar sobre qual seria a melhor abordagem diante dos diversos problemas que encontramos no mercado do Motion: pouca valorização, preços baixos praticados, prazos muito  curtos que nos fazem virar noite, desorganização e muitos outros. É melhor tentar mudar esse cenário ou entendê-lo, para que saibamos a maneira menos prejudicial de sobreviver dentro dele?

Existem forças poderosas que moldam o mercado em que atuamos, como a lei da oferta e demanda e até a situação econômica do país. Além disso, nossa área é muito dependente da publicidade. Uma crise nessa indústria certamente iria nos afetar demais. A forma com que os artistas se posicionam pode ter alguma influência na realidade do mercado, mas é uma influência bem pequena se comparada a outros fatores maiores.

O que estou dizendo é que nossas atitudes individuais têm pouco poder de mudar o mercado, mas têm um efeito significativo na nossa realidade. Entender os problemas e as armadilhas é importante para não cair nelas, mas, infelizmente, o discurso de que “temos que parar de cobrar pouco e nunca virar a noite trabalhando” não vai impedir que os clientes continuem demandando trabalhos com prazos curtos e preços baixos. Se você parar de fazer essas coisas, pode melhorar sua vida, mas não vai afetar significativamente as práticas negativas da indústria.

Nós não somos responsáveis pela desvalorização e pelos prazos apertados. Também não temos culpa da falta de conhecimento dos clientes sobre animação. Reclamar dessas coisas não ajuda. À medida que nossa profissão evolui as coisas mudam, mas enquanto isso, o melhor a fazer é educar os clientes à nossa volta e ter consciência de onde estamos pisando.

Os problemas do mercado não são iguais para todos os profissionais. Tudo é uma questão de moeda de troca. Quanto mais experiente você é, mais você pode exigir condições e pagamentos melhores. Como tudo na vida, o começo é a parte mais difícil. Os iniciantes estão sim expostos a mais problemas e são mais vulneráveis. É difícil imaginar uma carreira que não precise enfrentar desavenças no começo. Lembrem-se que temos uma profissão para a qual a faculdade não é exigida, nunca vão nos cobrar um diploma e podemos aprender tudo de graça pela internet. Essa relativamente baixa barreira de entrada gera um mercado mais competitivo e menos justo para iniciantes, mas não é todo mundo que tem a atitude de seguir firme estudando para chegar no próximo nível, onde as coisas tendem a ser melhores.

Ainda acredito que o Motion trás a possibilidade de pessoas mudarem de vida. Ele mudou a minha, mesmo depois de vários projetos por pouco dinheiro e algumas noites viradas. Vejo pessoas com condições financeiras que eu nem achei que um dia poderia ser possível em uma área criativa quando comecei a estudar design gráfico. E muitos deles sem nunca ter feito faculdade. Por isso eu acredito que a área do Motion ainda tem muito mais coisas boas do que ruins. Temos que falar sobre os problemas e apontar direções para melhorar nosso mercado, mas a nossa atitude individual como profissionais ainda é a melhor arma que temos.

Comentários

comments