A dor que não me deixa respirar

Trabalhar naquilo que a gente realmente ama não é capricho, é necessário (e dói saber de quanta gente não tem o privilégio nem de tentar).

Como muita gente sabe, estou aqui eu trabalhando com caixas na empresa do sorrisinho, enquanto pego um ou outro freela (também to sentindo falta de contar pra vocês as experiências do Poems e dos clientes malucos – mas amém aos freelas!). Isso me rendeu um desânimo total e, apesar de todos os cuidados, uma gripe (os testes de Covid deram negativos) pesada – nunca tive contato com os vírus da Europa e esse foi meu primeiro contato, me senti um homem de meia idade gripado que age como se estivesse morrendo, qualquer dor diferente era uma ligação nova pro médico – e a enfermeira já queria me dar um tiro a esse ponto.

Descobri também que havia machucado, de maneira razoavelmente grave, os músculos do diafragma e, consequentemente, estou com muita dificuldade para conversar por longos períodos, para fazer atividades físicas mais pesadas, carregar peso, etc, por não conseguir respirar fundo.

Esse é um trabalho dolorido fisicamente, e desgastante mentalmente, mas entendi que é principalmente por que eu não tenho a menor aptidão para ele, apesar de ter bastante vontade de fazer o melhor trabalho possível, até porque, nesses momentos de lockdown, são nessas caixinhas que estão devolvendo a alegria do dia de muita gente.

No início imaginei que fosse o horário noturno, já que fiquei vários e vários dias sem conseguir dormir depois de começar a trabalhar com isso, mas agora que até o corpo me sabotou totalmente e eu tive, forçosamente, que parar, consegui perceber que não é só pagar as contas no fim do mês.

Nada contra quem gosta e consegue lidar com um trabalho pesado enquanto estuda, e não quero cuspir no prato que como, já que esse é o meu principal sustento no momento, mas entender o quão verdadeiramente não posso mais deixar de trabalhar com o que amo me fez parar pra perceber todos esses outros problemas e fazer de fato um plano para lidar com eles.

Esse é, na verdade, só mais um textão de desabafo, misturado com algumas desculpas do porquê tenho estado ausente, mas não deixa de ser uma preocupação constante. Claramente, no meu caso, a ansiedade impacta a capacidade de respirar em conjunto com os problemas físicos e isso se deu por todos os problemas psicológicos que fazer o que não tenho aptidão para fazer me causaram.

Por muito tempo deixamos de amar o que fazemos, pricipalmente lidando com agências e clientes que nos desvalorizam como profissionais, ou fazendo projetos que não consideramos bons para o nosso desenvolvimento profissional, mas fazer algo que não é nada daquilo que gostamos ou que nos treinamos para fazer é muito mais desgastante e algo que dá muitas possibilidades de gerar problemas psicológicos e físicos (que podem ser psicossomáticos ou não).
Por esse motivo, é importante que haja um plano para voltar àquilo que queremos fazer – que comece por projetos pessoais (mas façam, nem que seja por 30 minutos por dia) ou por procurar áreas correlatas que possam te inspirar ou, ao menos, dar tempo para que continue estudando e procurando voltar ao que realmente gostamos de fazer.

E aí? Já respirou hoje? Quais são os planos de vocês pra sair dessa espiral profissional? Semana que vem voltamos a uma Bibi mais “normal”.

Vocês podem encontrar mais sobre a artista da capa no instagram @irisakka ou behance.

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