Fazer faculdade vale a pena?

Vale a pena para um Motion Designer fazer faculdade? Eis a questão!

Antes de tudo, tenho que dizer que eu sou alguém que fez. Me formei em 2014 em Design Gráfico pela UEMG, a Universidade do Estado de Minas Gerais. Eu sei como é passar 4 anos como universitário e sim, acredito que valeu a pena. O que faz deste artigo um pouco enviesado para o sim.

Contudo, são diversos os exemplos de profissionais de motion sem graduação formal e que são referência para a nossa geração de Motion Designers brasileiros. O próprio Dhyan Shanasa, fundador do Layer, e o Beiço do Vida de Motion não tiverem essa experiência e hoje são grandes mestres do Motion.

Outro ponto é que não existe, até onde eu sei (me corrijam no comentário se eu estiver errado), um curso de graduação especificamente de Motion Design no Brasil. Existem sim cursos que se aproximam como “multimídia” e “cinema de animação”, mas grande parte dos Motion Designers que se graduaram, fizerem faculdade de design ou publicidade.

Neste artigo não vou falar sobre os benefícios do curso de design, especificamente, que foi o meu caso. Vou falar sobre a experiência de fazer uma graduação em si, e porque isso me fez um profissional melhor do que eu seria sem ela.

Sair do técnico

A profissão de Motion Designer é muito ligada ao conhecimento técnico do uso de softwares. E, na minha opinião, ninguém precisa de faculdade para aprender programa nenhum. Está tudo na internet e existem ótimos cursos online para isso.

Porém, como todos sabem, saber utilizar a ferramenta não te fará um profissional diferenciado (apesar das ferramentas serem parte essencial).

Muito da desconfiança dos profissionais quanto a fazer um curso de graduação vem da ideia de que Motion se resume a técnicas, pois são elas que são visíveis na camada mais superficial de um projeto. Todo o conceito e psicologia por trás de uma peça de motion pode ser, às vezes, ignorada por quem não passou pela academia, mas são elementos essenciais para a efetividade da peça.

É isso que a faculdade faz: te faz pensar sobre o projeto de uma maneira mais profunda e conceitual. Eu, por exemplo, tive aulas de semiótica e aprendi que, na publicidade, cada elemento e cor usada numa campanha, tem um sentido e traz um simbolismo que ajuda a vender o produto. Quem cursou Publicidade e Propaganda sabe disso mais do que eu.

Além disso, estudamos coisas como História da Arte, temos contatos com referências sofisticadas e conhecimentos que vão além do óbvio sobre o que se precisa saber para trabalhar como Motion. É claro, é possível aprender tudo por conta própria através de livros, mas ainda assim eu não dispensaria o contato com professores que entendem dos assuntos.

Outra coisa que a facul te permite é refletir de uma maneira ampla sobre sua profissão e seu papel na sociedade (acredito que talvez isso seja mais forte em universidades públicas).

Trabalhar em grupo

Fazer trabalhos práticos em grupo na faculdade é uma experiência diferente de trabalhar em grupo numa empresa. A noção de “compromisso” que as pessoas têm em uma graduação e no emprego é bem diferente. Os prazos costumam ser diferentes também.

Você aprende a fazer parte de uma equipe sem nenhuma relação de hierarquia estabelecida, e isso é uma aula sobre como lidar com as pessoas (costuma ser bem difícil, e é por isso mesmo que se aprende tanto).

É também um momento em que você pode errar à vontade. E errar é bom! Na vida real, um erro pode desagradar um cliente e isso significa perda de dinheiro. 

Ampliar a visão

Todo curso de graduação é superficial. Qualquer profissão que você escolha, terá um milhão de segmentos para seguir. No Design se pode trabalhar com editorial, UX/UI, sinalização, desenho tipográfico, identidade visual, etc. Depois de formadas, as pessoas buscam se especializar, mas durante o curso, se aprende um pouquinho (superficial) de cada coisa.

Isso amplia sua visão em relação às possibilidades que existem no mundo da comunicação, sobre os processos que existem em diferentes segmentos e você consegue ver melhor a big picture do universo criativo.

Fazer contatos

Esta é a maior vantagem que vejo em fazer faculdade. Foram os contatos que fiz lá, entre colegas e professores, que me levaram ao meu primeiro emprego, me abriram portas quando estava trabalhando e que me impulsionaram para ter a rede de contatos que eu tenho hoje.

Posso dizer que tenho conhecidos na maioria das agências e escritórios de design aqui de Belo Horizonte. Parte deles estudaram comigo, outros foram apresentados por professores.

Apesar de eu ter feito o curso de design, os contatos nessas empresas é que me conectaram às produtoras, onde, aí sim, eu pude trabalhar e fazer freelas como Motion.

Tá, mas e os lados negativos?

Ok, realmente 4 anos me parece muito tempo para um curso. Tiveram sim, várias matérias que eu aproveitei pouco (algumas eu me arrependo, queria ter aproveitado mais) e algumas que considerei meio “inúteis”.

Talvez o curso poderia ter uma duração muito menor e eu iria continuar tendo os benefícios que apresentei neste artigo. Mas eu sei que existem cursos que duram dois anos e essa me parece uma boa duração.

Claro que você pode se tornar um profissional “pronto para o mercado” muito mais rapidamente se não fizer faculdade. Mas, se você decidiu por não fazer uma graduação, meu conselho é que você estude, por conta própria, bem mais do que técnicas e programas.

Para aprender a pensar nos projetos com mais profundidade, saber como “manipular” simbolismos, entender o seu papel social, entender a origem e a história da sua profissão, você vai precisar ler muito. E pode não parecer, mas estas coisas podem te tornar um profissional bem mais completo.

A imagem de capa e ilustrações deste artigo são de um projeto de Dima Glushenkov.

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