MOTION FORA DOS GRANDES CENTROS

É possível trabalhar com motion e animação morando em qualquer lugar que você quiser? Confira alguma considerações a respeito desse assunto, seja você alguém que está morando em uma grande metrópole e quer se mudar para uma cidade do interior ou vice-versa.

Dá pra trabalhar com motion morando em qualquer lugar?

Sim. O trabalho home office já era uma realidade mas estava caminhando a passos curtos para a grande maioria dos profissionais, porém veio a pandemia e acelerou toda essa mudança do trabalho in loco para o remoto, e isso facilitou muito podermos trabalhar em casa morando em qualquer lugar. Com essa adaptação do mercado forçada goela abaixo em favor da segurança de todos, aconteceu de muitas pessoas que achavam indispensável o trabalho ser in loco mudarem de ideia e preferirem o remoto de agora em diante, pelos bons resultados que foram constatados. É possível trabalhar remotamente morando em qualquer cidade, por menor que seja, contanto que ela tenha uma boa conexão com a internet, energia elétrica estável e uma boa estrutura para suprir todas as suas necessidades. O mundo todo está conectado via internet, tornando possível até mesmo ultrapassar o território nacional e conseguir participar de projetos para clientes de fora do país, independente de onde você está morando. Grande parte dos profissionais têm clientes internacionais.

Atualmente, já é uma realidade você poder sair dos grandes centros mais agitados e ir morar em uma cidade menor e mais calma, e continuar a trabalhar normalmente. Um ponto negativo a se considerar quando você decidir morar em uma cidade no interior é o networking local. Se você gosta de sair pra interagir fisicamente com os colegas de profissão, morar em uma cidade pequena pode tornar esse tipo de contato inviável. Aliás, esse tipo de networking foi por água abaixo quando surgiu a pandemia. Mas isso não quer dizer que o networking fique limitado por conta disso, pois você consegue interagir com todos pela internet, seja pelas redes sociais, grupos, e-mail, etc. Já os festivais e eventos (quando voltar a ser possível a realização deles) são mais esporádicos, então fica mais fácil para se organizar e viajar para participar deles e bater um papo com a galera da área, fazer novas amizades e até mesmo conseguir oportunidades de trabalho.

O que é necessário ter para trabalhar em qualquer lugar

Primeiramente, um PC. Muita gente troca gato por lebre e, por falta de informação, preferem gastar o dinheiro que têm (que às vezes é pouco) para comprar um notebook ao invés de um PC. Pode parecer muito promissor comprar um notebook por conta da praticidade de mobilidade, mas a longo prazo não é. Você consegue mudar todo o hardware de um PC se você quiser, e do notebook apenas algumas peças, infelizmente. Notebook é uma vantagem somente se você é uma pessoa que está viajando o tempo todo. Se esse não é o seu caso, um PC é uma escolha melhor para você.

Uma internet boa é o segundo requisito. Quanto mais rápida, melhor. Pelo menos mais de 40MB, senão você terá muitas dores de cabeça e problemas para baixar e upar os arquivos e assets necessários para seus projetos. Sem falar que uma conexão de internet lenta fará com que os seus prazos de entrega aumentem, e muito. Nessa profissão estamos constantemente baixando e upando arquivos, fazendo calls, etc, sempre usando a internet de algum modo. Então, uma boa conexão de internet é fundamental para trabalharmos bem de maneira otimizada e rápida.

E por último, networking, prospecção de clientes e portfólio. Estar fisicamente longe de seus companheiros de profissão e clientes não é uma limitação para conseguir jobs, já que atualmente o networking é feito basicamente online. A pandemia tornou esse networking local irrelevante. Quando a pandemia passar, daí sim essa relevância pode retornar e você pode fazer visitas aos estúdios, produtoras e freelancers, se reunir com outras pessoas nos eventos, chamar a galera para sair, etc. Algumas pessoas consideram esse tipo de contato muito significativo. É importante que você esteja ativo na internet nas suas redes sociais; conversando com outros profissionais, tirando e esclarecendo dúvidas, postando seus estudos e projetos, sendo participativo nos grupos, dentre outras coisas. Ou seja, esteja presente! E ter um portfólio é indispensável, obviamente, pois ele é a sua vitrine de trabalho. É através dele que as pessoas conhecerão o seu trabalho, o que você sabe fazer, o nível dos seus projetos, seu tempo de carreira, etc. Montar um bom portfólio é fundamental.


Tivemos duas participações especiais nessa live, com duas animadoras contanto um pouco sobre a experiência delas sobre esse assunto.

A Pola Lucas, animadora 2D freelancer, de Guarujá-SP, mandou um áudio falando da experiência dela de sair de uma grande capital e ir pra uma cidade pequena (para ouvi-la, é só pular o vídeo para o momento 22:38):
“Cara, esse lance de trabalhar de qualquer lugar eu percebi no meu trabalho de freela que eu fiz como motion. Eu estava em Niterói trabalhando para um blogueira de Londres que também trabalhava com uma designer em São Paulo, com todas remotamente. Depois dessa, fiz outros freelas com ela e com outras pessoas do Brasil todo, então isso já me abriu os olhos, sabe. Desde que quis ser freela eu queria trabalhar de qualquer lugar, e com a COVID São Paulo se tornou só um monte de concreto pra mim, e com um preço caríssimo, já que eu posso trabalhar em casa e fazer isolamento. Eu já sentia muita falta de natureza e de praia, então eu e meu companheiro decidimos vir para o Guarujá, que fica aqui no litoral de São Paulo. Eu moro a uma quadra da praia em um apartamento que tem o dobro do tamanho do que eu tinha em São Paulo, e ainda estou economizando muito. Desde que eu virei freela isso foi bom porque a maioria dos clientes que eu tive no ano passado eram dos Estados Unidos, e os do Brasil já trabalhavam remotamente também, então não impactou nesse sentido. Eu vejo que, se você tem internet, não existe tanta dificuldade porque nesses últimos anos o home office tá bem mais normalizado, ainda mais pra quem é freela. Eu acho bem interessante aqui porque tem natureza, aí eu posso tipo acordar, correr na praia e depois voltar pra trabalhar. Sempre foi algo que eu queria muito voltar a ter, desde que eu fui pra São Paulo. Ao mesmo tempo que fica a uma hora e meia de São Paulo, então não é tão isolado assim, e possui uma estrutura muito boa de internet. Acho que valeu muito a pena nesse sentido pra mim, pela minha qualidade de vida, e melhorou até no meu trabalho também, na minha produtividade. Lembrando que eu trabalhei fixo em São Paulo por dois anos, e eu ia muito em eventos e conheci muita gente legal que me ajudaram bastante e que eu também pude ajudar. Então, achei muito proveitoso poder aproveitar esses dois lados. Recomendo muito para todo mundo.”

A Louise Bonne, animadora 2D freelancer, de Ilha Bela-SP, mandou um áudio (para ouvi-la, pule o vídeo para o momento 1:00:15):
“Meu nome é Louise, mas a maioria das pessoas me conhece como Bonne. Eu sou animadora 2D com foco em personagem, e ilustradora. Eu fui chamada pelo Layer Lemonade pra mostrar que dá sim pra trabalhar com animação de qualquer lugar. Pra quem não sabe, eu cresci em uma cidade pequena chamada Seropédica, no Rio de Janeiro. Naquela época era mais difícil e, realmente, não teve jeito: eu tive que ir pro centro do Rio de Janeiro para estudar e trabalhar. E lá eu consegui trabalho, mas eu vi que a vida na cidade grande não era pra mim. Por mais que eu estivesse trabalhando finalmente com o que eu gostava, que é animação, eu ficava agoniada com o caos da cidade e com o fato de eu não conseguir me sentir segura em nenhum momento. Pra dar um exemplo, às vezes tinha dias que eu saía do trabalho, já escurecendo, e começava a me dar taquicardia, de tão nervosa que eu ficava. Poxa, eu tava sozinha, me sentindo sozinha na cidade, podendo ser assaltada, essas coisas. Eu não gostava. Eu queria mudar, voltar pra minha cidade natal onde eu tinha mais segurança, mas isso significaria que eu iria perder o meu emprego. Infelizmente, na nossa área que a gente usa Toon Boom Harmony pra animar personagens, os trabalhos remotos eram um pouquinho mais raros. Tinha trabalho remoto, sim, eu lembro, mas era mais pra galera de After Effects e edição. E por eu só saber Toon Boom na época, eu até pensei em mudar de foco para o After e edição, mas como eu gostava muito de animação de personagem eu ficava mais deprimida do que motivada a mudar de área. E naquela época eu também conheci o meu atual namorado. Ele tinha um trabalho fixo em um lugar chamado Ilha Bela, em São Paulo. A gente namorou à distância e ficou um tempo assim, mas uma hora eu fiquei pensando: ‘Um dia a gente vai ter que se juntar, né. A gente vai querer viver junto. Como que vai ser isso?’. E as pessoas ficavam: ‘Lá é uma ilha. Lá tem internet pra você trabalhar.’ Gente, claro que tem, mas de qualquer maneira dava medo. Então eu ficava pensando em como é que eu iria trabalhar com animação em uma ilha. Aos poucos eu fui levando o meu notebook quando eu ia visitar ele e vi que era possível. Tinha internet, tudo certinho, e esse medo foi desaparecendo, mas ainda faltava a demanda dos trabalhos. E isso começou a acontecer foi quando veio a pandemia e mudou tudo. Houve uma explosão de trabalhos remotos, de todos os tipos, e foi ali que eu vi que eu precisava surfar nessa onda. Eu comecei a estudar as possibilidades e vi que um dos melhores caminhos era virar freelancer, e foi o que eu fiz. E agora no final de 2021 eu consegui me mudar pra Ilha Bela, e por enquanto está tudo normal; comunicação, vídeo e arquivos, animação. Basta ter internet, seu computador e é isso aí. Eu fiquei pensando se eu tivesse qualquer outro emprego, sabe. Ia ser muito mais difícil de eu me mudar assim tão rápido, e no caso da animação bastou eu levar meu notebook, minha mesa digitalizadora, e o resto super fluiu.”


Durante a live, uma enquete ficou disponível para quem acompanhava ao vivo votar. A pergunta da enquete foi “Você quer sair do interior para um grande centro ou de um grande centro para o interior?” Com 243 votos, o resultado foi:

  • Nem lá, nem cá – 50%
  • Sair de um grande centro – 26%
  • Sair do interior – 23%

Este artigo é um resumo do que foi abordado na live MOTION FORA DOS GRANDES CENTROS, episódio 36 do Manual do Freelancer.

O Manual do Freelancer é uma série de lives apresentadas por Dhyan Shanasa Ester Rossoni (os Supernova Duo), trazendo dicas para a comunidade e aprofundando na parte mais burocrática da indústria de motion design e animação. As lives do Manual do Freelancer acontecem nas segundas-feiras às 16h, no canal do Layer Lemonade no Youtube. Você pode conferir todos os outros episódios na playlist do Manual do Freelancer. Logo após o término da live, o episódio fica disponível automaticamente no canal.

Assista a live na íntegra (disponível acima, no começo deste artigo) para conferir todo o conteúdo discutido a respeito desse tema. A parte final da live é dedicada a responder perguntas, deixadas pela comunidade no chat ao vivo e também na caixa de perguntas disponibilizada no Instagram do Layer Lemonade e do Supernova Duo. Contamos com a sua presença na próxima live do Manual do Freelancer, na segunda-feira às 16h.


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