O poder da semiótica na construção de narrativas visuais – Parte 1

A semiótica é uma ciência que estuda a construção dos significados através dos signos. O assunto é muito extenso e complexo, mas a intenção deste artigo é deixar tudo muito simples e prático. Entender a construção do significado é fundamental para desenvolvermos narrativas visuais mais assertivas. A comunicação é um processo de codificação e decodificação, estes códigos podem ser verbais ou não verbais. O significado de cada um destes códigos podem variar de acordo com o tempo, cultura local e construção social. Comunicar é o nosso oficio e fazemos isso através de movimentos, cores e formas. A mensagem que codificamos é decodificada pelo publico consumidor e quanto mais dominamos o código, mais controle da narrativa visual teremos.

Signo e significado

Quando falamos de signo, logo o que vem a mente são os signos do zodíaco, mas o signo é simplesmente algo que representa alguma coisa, nosso cérebro sempre cria relações entre tudo ao nosso redor, estas relações são o mecanismo que temos para se registrar uma memória. Vamos trazer este conceito para o campo da praticidade, vamos pensar que existem dois campos, o campo do real e o da representação, por exemplo um animal, um gato. Ele é o real, o que existe, uma foto deste mesmo gato é a representação do real, por mais que seja a foto do próprio gato, não é o gato. Só sabemos que aquela foto é de um gato porque simplesmente em algum ponto da nossa história fomos ensinados que aquele animal era um gato, criando assim uma memória, uma informação que foi construída. O signo é sempre a representação de algo, a que atribuímos valor, significado e sentido.

Ícone, índice e símbolo

Agora que já fomos apresentados ao conceito de signo vamos ver como os signos podem ser representados. Segundo Charles Sanders Peirce, o pioneiro do estudo da semiótica, o símbolo se divide em ícone,índice e símbolo.

Ícone

É a representação mais próxima do real, voltando com o exemplo do gato, uma foto ou até um desenho que traga o mínimo de proximidade do que é um gato (como um desenho infantil) é um ícone. Aqui o nível de interpretação é bem direto e literal, sem esforços interpretativos.

Índice

Se o ícone é a representação literal do signo, o índice é uma parte do todo que já havia sido entendido anteriormente. O índice é o que dá indicio de algo que nos leva a uma conclusão, por exemplo, se utilizarmos um ponto e em cada lado deste ponto colocamos linhas dispostas como se fossem bigodes, temos uma representação do que poderia ser um gato. Este entendimento só é possível porque anteriormente houve um aprendizado do que era um gato, sem este entendimento prévio seria impossível decodificar o signo. Neste caso o entendimento ocorre sem precisar de uma representação similar à coisa.

Símbolo

Aqui já entramos na abstração, a interpretação é mais profunda, pois não existe relação direta de semelhança, é algo construído através de forma conceitual e sua leitura depende muito da visão de mundo do espectador. O significado do símbolo é sempre uma convenção, como exemplo temos as letras que formam o alfabeto. Um dia alguém convencionou que a letra “A” simboliza um determinado som linguístico, e a convenção deste símbolo veio do caractere primitivo chamado Alef que significava boi e era a primeira letra do alfabeto fenício. Dai percebemos como a interpretação dos símbolos dependem de um contexto de tempo e sociedade, já que esta construção pode mudar ao longo dos anos.

Existe uma linha bem sutil entre ícone e símbolo, o que vai diferenciar mesmo um do outro é o contexto, vou dar o exemplo do disquete. As novas gerações quando observam a imagem do disquete associam ao comando salvar, pois muitos desconhecem o que seria um disquete, logo aquela imagem é uma abstração e não a representação parcial de algo que exista, no caso o disquete.

Comunicação é criar sentido e significado, o entendimento da semiótica nos ajuda a construir elementos gráficos que por si só auxiliam em nossas narrativas, é muitas vezes passar a mensagem sem usar as palavras. Na segunda parte deste artigo escreverei sobre as diversas camadas de interpretação e suas aplicações praticas.

Fonte da imagem- Freepik

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