O poder da semiótica na construção narrativa – Parte 2

Dando continuidade ao meu último artigo, vamos analisar mais alguns pontos da semiótica e procurar entender como ela pode ser uma peça fundamental dentro do processo criativo.

Umberto Eco propôs que todo fenômeno cultural possa ser estudado como uma comunicação, todos os elementos que nos cercam fazem parte deste processo de construção comunicativa, cores, formas e símbolos trazem uma mensagem que são codificadas e decodificadas a cada instante. A comunicação é uma construção social, e dentro desta construção existem elementos que são de reconhecimento universal e outros que fazem parte de um entendimento mais regionalizado, por exemplo, a cor do luto como preto não é uma interpretação universal, já que em vários países asiáticos é o branco que o representa. Vermelho e amarelo em algumas regiões da África e azul-celeste no Irã e Síria.

Primeiridade, segundidade e terceiridade

Peirce descreveu que toda experiência e pensamento possuem 3 categorias universais, primeiridade, segundidade e terceiridade. Quando falamos de pensamento dentro da semiótica não devemos confundi-lo com o pensamento racional, e sim como tudo o que aparece à consciência ou experiência. A formação do pensamento passa por 3 estágios. E cada um destes estágios tem um grau especifico de interpretação e entendimento. Vamos analisar cada um deles.

Primeiridade

Nesta etapa temos a qualidade do signo, cor, forma, textura e etc. Aqui temos os aspectos puramente qualitativos e pré-reflexivos, é a consciência imediata, é onde encontramos as qualidades puras, por exemplo, o céu azul é simplesmente isso, o céu de cor azul. Entender simplesmente o azul é a constatação de uma qualidade pura, ela é aquilo e pronto, sem abstrações, conceitos técnicos ou filosóficos. Nesta etapa o nível de interpretação é o mais superficial possível, onde tudo ocorre no campo sensorial e sentimental.

Secundidade

Aqui temo o factual, o que se materializa, onde temos ação, reação, causa, efeito e impacto. A materialização vai além do objeto físico e palpável, uma cena criada na mente é algo considerável como material. Este é o segundo nível de interpretação, usando o exemplo anterior, céu azul, na primeiridade temos a qualidade do azul, na segundidade já temos a materialização do que existe (céu) e do que materializamos em mente.

Terceiridade

Aqui chegamos na camada mais profunda da interpretação, temos conexões entre a qualidade e o fato. Aqui é onde ocorre a inteligibilidade que é o grau com o qual a mensagem do emissor pode ser decodificada pelo receptor, o pensamento passa a ser representada pelos signos.

Quando falamos o céu é azul, dentro da terceiridade vai além dos aspectos citados na primeiridade e secundidade, a decodificação passa pela síntese intelectual e elaboração cognitiva. Entramos em uma camada mais profunda onde o indivíduo conecta o que vê a sua experiência de vida, trazendo sua decodificação para um contexto pessoal. O céu azul para muitos pode ter um significado religioso, trazer uma cena do passado ou inspiração para uma musica. Nesta camada interpretativa é onde conseguimos convencer e cativar.

Vamos para alguns exemplos práticos

Autor Marcos Gpe campanha BMW

Aqui nesta peça criada pelo diretor de arte senior Marcos Gpe do Y&R México, podemos analisar a imagem da seguinte forma.

Primeiridade – cor vermelha, braço e carro.

Secundidade – direção, BMW e o The Flash. Detalhe importantíssimo, se o receptor não conhecer o herói, a mensagem vai ser perdida.

Terceiridade – Se o The Flash que é o herói cujo o poder é a velocidade dirigi uma BMW então temos realmente um carro veloz. Se os heróis prezam sempre pela segurança e bem estar, logo a BMW seria o carro ideal para eles.

Só conseguimos chegar neste nível de interpretação se o receptor tiver todas as “peças” para montar este quebra cabeça comunicacional.

Vejam estas três campanhas publicitarias abaixo, vejam como elas sempre vão trazer uma mensagem certeira para um publico específico com o repertorio de conhecimento adequado para aquela mensagem. A ressalva que faço é da propaganda da Confort, pois você traz uma mensagem altamente de nicho para um produto extremamente popular.

Motion é comunicação e cultura

Motion não é simplesmente aplicação técnica, é um meio que leva uma mensagem, logo devemos tratar nossas peças desta forma e com este cuidado. Pensando e planejando cada detalhe, sempre focando no publico que você quer comunicar. Motion é expressão comunicacional e cultural através da animação, a animação é só um meio para fazermos algo maior, que é passar uma mensagem clara e objetiva.

“A ideia não pertence à alma, a alma é que pertence à ideia”

Charles Peirce

Fonte das imagens

Capa – M. C. Escher

Imagens corpo do post

https://bonstutoriais.com.br/anuncios-criativos-da-semana-18/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+com%2Fkrtb+%28Bons+Tutoriais%29

https://publicinove.com.br/campanha-criativo-greenpeace/

https://www.krop.com/profile/marcosgpe/

Comentários

comments