Papo Lemonade com Ryan Rumbolt – Wonderlust Media

Wonderlust Media é um estúdio pequeno, recente, e sensacional, focado em motion design e animação, localizado na pequena cidade de Halifax, Canadá. Você provavelmente já viu algum dos seus trabalhos super coloridos!

Ryan Rumbolt é o criador do estúdio, e nós tivemos a grande oportunidade de conversar com ele sobre a sua carreira e sobre o Wonderlust:

Layer Lemonade – Oi Ryan! Primeiro conte pra gente sobre você! Aonde você cresceu? Já imaginava que você estaria trabalhando com motion graphics e animação quando era pequeno? Você estudou de sign e animação em alguma escola ou aprendeu por conta própria?

Ryan Rumbolt –  Hey! Primeiramente queria agradecer a vocês por organizarem essa entrevista e dizer todas essas palavras gentis sobre o Wonderlust. Ainda fico impressionado que alguém saiba quem somos. 🙂

Eu cresci em uma cidade portuária em Newfoundland, chamada Port au Choix. Newfoundland é uma pequena província na costa leste do Canadá. Somos conhecidos pela nossa simpatia e por não levar a vida super a sério.

Eu sempre fui uma criança quieta e curiosa. Passava a maior parte do tempo desenhando, criando meus próprios quadrinhos e lendo. Contar histórias era uma grande parte da minha vida, mas só na High School que comecei a pensar numa carreira na animação. Com 15 anos, um professor me pediu que participasse de um concurso, que envolvia criar um comercial contra bebida e direção. Eu criei 30 segundos de animação no MS Paint ( eu sei, doido, né?). O comercial envolvia alguns personagens bebendo em uma festa e então pulando pra dentro de um carro, e  batendo. Então eles pulavam pra fora e dançavam enquanto o carro pegava fogo e a frase” A vida não é um desenho animado. Se beber não dirija.” Meu comercial ganhou e passou na Tv por alguns meses. Foi aí que soube que publicidade e animação eram pra mim.

Depois da High School eu fui para uma universidade mas praticamente desisti, trabalhando em muitos trabalhos esquisitos. Então me mudei para Toronto em 2002 onde eu estudei animação 3d na toronto Film School. Imediatamente depois de me formar eu peguei um trabalho como compositor no estúdio DHX Media. Eles criam muitas séries de tv para crianças. Foi lá que trabalhei por 10 anos antes de começar o Wonderlust.

LL- Como o Wonderlust nasceu? Quais foram as maiores dificuldaes quando você começou ? Como você aprendeu a lidar com o lado business da empresa?

RB – O Wonderlust nasceu por causa da minha mãe. Em 2014 ela foi diagnosticada com câncer de ovário e morreu alguns meses depois. Eu disse a ela que meu sonho era abrir um estúdio e antes dela morrer ela me convenceu de que eu precisava seguir meu sonho. Ela sempre tinha muita fé de que eu poderia fazer qualquer coisa que eu me dedicasse a fazer. Eu voltei para o DHX mas saí logo depois.

Abrir um estúdio não foi fácil. Eu não tinha idéia de como cuidar de uma empresa e precisava primeiro ser bem sucedido como freelancer antes de poder contratar meu primeiro funcionário integral. Eu ralei bastante, trabalhando até 16 horas por dia, e demorei 2 anos para criar uma lista de clientes  que me deixasse confortável o suficiente para contratar o incrivelmente talentoso Arm Sattavorn. Em fevereiro de 2016 eu abri oficialmente o Wonderlust e sai do meu home office. Ficamos só eu e Arm. Alguns meses depois trouxe um grande amigo, Christian Rankin, para me ajudar com o lado business e ser o Produtor Executivo. Eu sou um cara criativo, essa parte não é a minha força.

LL- Quantas pessoas trabalham atualmente no estúdio? Você trabalha com freelancers remotos ou só com pessoas no estúdio?

RB – Hoje temos 5 pessoas trabalhando no estúdio. E temos um funcionário integral na Argentina. Trabalhamos muito com freelancers remotos, pois é difícil encontrar pessoas que queiram se mudar para uma cidade pequena como Halifax.

LL- Aliás, porquê você decidiu criar o estudio em uma cidade como Halifax, e não se mudar para um lugar como Vancouver, onde a maior parta da nossa indústria no Canadá está?

RB – Eu sou da costa leste e é aonde e quero viver pro resto da minha vida. Enquanto eu adoro Vancouver, ela é uma das cidades mais caras do mundo para se viver. Halifax é muito mais acessível e nós temos o Oceano Atlântico e muitas praias.Você consegue uma qualidade de vida bem diferente da de Vancouver, aqui em Halifax, já que você pode pagar por muito mais coisas. Outra coisa é que temos um aeroporto internacional que pode te levar para Londres em 5 horas, Nova York em 1h30 e Toronto em 2 horas. Halifax é um dos segredos mais bem guardados do Canadá 🙂

LL – Não importa aonde no mundo, provavelmente todos nós na nossa indústria temos algum problema com a combinação: expectativa do cliente + orçamento apertado + prazo apertado. Você acha que isso também é verdade para  o Wonderlust? Existe algo na nossa indústria que você acha que poderia ser mudado para melhor?

RB – Absolutamente, parece que mais do que nunca a expectativa dos clientes está ficando mais alta, enquanto os orçamentos e os prazos estão encolhendo. Muitas vezes o cliente acha que por que um vídeo será feito para internet, o orçamento deveria ser muito menor do que para um comercial. Mas, eles não percebem que animação é animação, o mesmo tanto de trabalho é preciso nos dois. No lado positivo, Wonderlust está chamando mais a atenção e ganhando seguidores, então estamos sendo convidados para pitches em projetos muito maiores, com orçamentos e prazos realistas. Esses projetos continuam existindo, só está mais difícil de consegui-los

Muitas coisas deveriam mudar. Mas eu acho que a mais importante é processo de pitching. Geralmente é preciso que uma agência chame 3 ou mais estúdios para um pitch de projeto. Pitching é muito trabalho e como somos uma equipe pequena isso realmente bagunça nossa agenda. E pitches raramente são pagos, então acabamos fazendo muito trabalho de graça. Além disso, uma agência geralmente já tem um estúdio em mente, com quem eles querem trabalhar, mas é preciso que eles convidem outros estúdios também. É uma prática injusta.

LL – Que tipo de clientes ou projetos você se empolga mais? E existe algum tipo de projeto que vocês ainda não desenvolveram mas que tem vontade de fazer algum dia?

RB – Eu sempre me empolgo com clientes que estão tentando criar um impacto positivo nas nossas vidas. Seja proteger o meio ambiente, os direitos do animais ou promover uma alimentação saudável, animação é um meio maravilhoso para transmitir uma mensagem poderosa. Esses são os melhores projetos.

Eu adoraria trabalhar em um vídeo para a Canadian Cancer Society, que promove cuidados para pessoas doentes e proteção aos animais. Wonderlust ainda não explorou nenhuma narrativa com live action ou animação 3d. Isso é algo que nós gostaríamos muito de fazer no futuro.

LL – Quais são suas maiores inspirações artísticas? Você dedica algum tempo para projetos pessoais?

RB – Eu tenho tantas inspirações que fica difícil nomear só algumas. Aliás, eu sou inspirado por cada uma das pessoas que vocês já entrevistaram aqui. Ótimo trabalho! Eu também me sinto inspirado por qualquer artista que tem feito carreira no motion. Essa indústria pode ser muito desafiadora. Ver o sucesso das pessoas é uma inspiração.

Nós estamos atualmente trabalhando em alguns projetos pessoais. Eu estou dirigindo meu primeiro curta e trabalhando com um dos meus ilustradores preferidos, Colin Bigelow. Nós estamos trabalhando também em alguns idents bem doidos e divertidos para o Wonderlust, tentando puxar levar nosso estilo mais longe, e também vamos dirigir um videoclipe agora no verão.

LL-  Quais você diria que são os maiores desafios pra você hoje comandando um estúdio? Você ainda “põe a mão na massa” e anima ou desenha você mesmo, ou você se mantém somente na direção da equipe?

O maior desafio é continuar sendo competitivo. Existem tantos outros estúdios incríveis por aí e a competição pelo trabalhos está aumentando. Como diretor criativo é meu papel guiar o estúdio em uma direção criativa que vai nos permitir se destacar e ser notado pelos clientes. Eu também tenho dificuldade em decidir o que compartilhar e quandom nas mídias sociais. Nós só divulgamos aproximadamente 40% do trabalho que produzimos no Wonderlust.

Eu ainda animado de vez em quando, mas nunca ilustro. Isso sempre foi uma das minhas maiores fraquezas. Quando temos um prazo muito apertado eu entro e ajudo botando um pouco de amor no keyframes. Isso geralmente acontece uma vez por semana, então eu gosto de pensar que eu ainda ponho a mão na massa.

LL – Todo dia um novo software ou técnica aparece! E as vezes temos a sensação de que para ser um bom designer ou animador nós precisamos ser bons em tudo…Você tem algum conselho para motion designer e animadores que estejam com dificuldade em focar e avançar nas suas carreiras?  

Apenas ache sua voz. Quando contrato alguém eu geralmente escolho pessoas que expressam sua personalidade no seu trabalho. Não tente ser um mestre em todos os programas e técnicas, isso pode ser muito pesado. Encontre uma área em que você é forte e domine isso.

LL – Agora uma pergunta para o resto da equipe Wonderlust: Oi gente! Nós gostaríamos de saber… O que vocês mais gostam em trabalhar no Wonderlust?

Arm (Animador Chefe ) :

“Eu acho que o que mais gosto do Wonderlust são as HORAS FLEXÍVEIS, porque no estúdio nós nos preocupamos com a qualidade do trabalho. Horas flexíveis não significa que você pode trabalhar a qualquer hora que quiser, nós ainda temos um horário definido pra que toda a equipe possa se comunicar durante os projetos, mas no meio do dia você pode fazer uma pausa para ir a academia, dar uma relaxada ou ir trabalhar de casa se você não esá se sentindo bem ou tem algo importante para fazer.  Na minha opinião isso é muito importante pois somos pessoas criativas, e não trabalhamos numa fábrica onde se pode medir o trabalho por horas. Se as pessoas na equipe  não tem uma boa qualidade de vida, como elas vão conseguir fazer um trabalho de qualidade? Outra coisa também é que horas flexíveis mostra o quão profissional você é, pois mesmo com tudo isso você ainda tem um prazo para ser cumprido.”

Camille ( Animadora Junior ) :

“Eu gosto de trabalhar em um estúdio pequeno porque é menos estressante e te dá maior liberdade criativa nos projetos. Wonderlust é acolhedor.”

Juan (Animador de personagem ) :

“No Wonderlust eu encontrei um lugar com um forte sentimento de equipe, onde nossas habilidades são sempre tratadas de forma positiva. A melhor coisa é o tempo das produções – que me permitem desenvolver a animação da melhor forma possível – o bom humor da equipe e uma atitude avant-garde no conteúdo e design dos projetos. Dá pra sentir a liberdade e o desafio de fazer projetos cada vez melhores. Depois de anos trabalhando com publicidade eu amo finalmente poder animar num ambiente tranquilo. ”

Mod ( Ilustrador ) :

“Wonderlust tem ótimo lanchinhos, muitos palhaços e uma equipe fantástica! O que não amar?”

Christian ( Produtor Executivo ) :

“Somo uma equipe pequena com muitas pessoas engajads e talentosas, Iso torna o trabalho divertido. Todos nós queremos ficar cada vez melhores, e nós vamos!”

RAPIDINHAS

LL – 3d ou 2d?

RB – 2d sempre. Pergunta fácil.

LL – Citação preferida?

RB – “Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido!” – Lewis Carroll, Alice Através do Espelho.

LL – Software preferido?

RB – O aplicativo Boords dos nossos queridos amigos do Animade. Me poupa muito tempo e dor de cabeça.

LL – Limonada ou um Canadian Ceaser?

RB – Eu amo limonada mas preciso escolher o Canadian Ceasar. E aqui vai uma história engraçada: Durante o festival Blend, em Vancouver, eu introduzi meus amigos do estúdio ILLO, da Itália, ao Ceasar. Eu acho que eles adoraram Ceasars mas não tenho certeza… Então se vocês alguma vez entrevistarem alguém do ILLO, por favor, façam a mesma pergunta  a eles! E se vocês vierem ao Canadá, vou oferecer um pra vocês também! 🙂

Muito obrigada Ryan e todos da equipe Wonderlust por responderem nossas perguntas! Vocês são uns amores! E com certeza estão convidados para vir ao Brasil e experimentar uma caipirinha!

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