Ser um bom profissional é o suficiente?

Essa é uma tradução livre do artigo do Motionographer “A quick reflection on professionalism”.

Post by Daniel Coutinho.

“Seu talento abre portas, mas é sua personalidade que vai te manter lá, sempre.”

Essa citação é de Jay Grandin, sócio e diretor de criação da Giant Ant e o conceito de personalidade que ele fala é muito valioso – e talvez esteja sendo negligenciado atualmente em nossa área. A fim de elaborar a idéia da personalidade de um artista dentro do contexto de local de trabalho, vale a pena olhar primeiro para um aspecto do próprio trabalho: o equilíbrio entre os chamados “trabalhos divertidos” e os que são menos criativos. Talvez algum distúrbio nesse equilíbrio possa influenciar nesse comportamento.

Algo está acontecendo com esse equilíbrio na nossa área?
Os artistas estão insatisfeitos?
Os trabalhos divertidos são minoria?

“Depende o que você entende por diversão: há muito mais aberturas de filmes e séries, redes de streamings, filmes independentes e pacotes de web. Há também muito mais aquele “arroz com feijão” básico de vídeos explicativos e pacotes de identidade visual. Mas uma coisa é certa, se você gosta de aprender, há uma quantidade enorme de novas ferramentas que estão disponíveis e acessíveis, seja câmeras ou softwares, há muito mais coisas para aprender.”

Ryan Summers, Creative Director at Digital Kitchen

A indústria está evoluindo. Existe mais de tudo, tanto de coisas boas como ruins. Dito isso, você pode argumentar questões básicas, que princípios tradicionais como personalidade ainda são fundamentais para uma equipe que quer prosperar nesse ambiente. Mesmo que seja inegavelmente legal trabalhar em Motion Graphics, mostrar seu portfólio e falar sobre isso nas mídias sociais, ainda há um elemento de profissionalismo que não deve ser ignorado. Ryan continua:

Por outro lado, há um pouco da influência do estilo de vida “High Stakes”, de apostar alto, que surgiu com o público de empreendedorismo financiado por capital de risco que leva as pessoas a valorizar um agressivo network nas mídias sociais, marcas pessoais e criação de conteúdo ininterrupto no Instagram, Twitter e Dribbble, forçando-se a conhecer de tudo um pouco, se tornando um generalista. Todo conhecimento é válido, mas há algo se infiltrando na indústria que que começa a mostrar seus efeitos nos níveis de estresse das pessoas. É algo que vale a pena observar e debater.”

Pense na ética do trabalho: O “princípio de que o trabalho árduo é intrinsecamente virtuoso ou digno de recompensa”. Isso pode ser entendido em como manter uma alta motivação, estar aberto a feedbacks, ser agradável no trabalhar, mantendo o foco em entregar um bom produto final. Coisas que realmente importam em nossa área. E quando surge aquele projeto “arroz com feijão” que oferece pouca motivação, esses princípios correm o risco de serem negligenciados.

“É basicamente trabalho.  As pessoas que eu tenho visto que tem mais sucesso são aquelas que vêem o trabalho como uma carreira real e não apenas como algo mecânico e automato. Significa que aqueles que têm respeito pelo processo e se orgulham do resultado final geralmente chegam ao topo. “

Ted Kotsaftis, Creative Director/Partner at BLOCK & TACKLE

Nós podemos dar um passo para trás e relembrar o sentimento de alegria que tinhamos quando aprendemos nossos primeiros keyframes anos atrás … Exercer isso até hoje, estando entre os profissionais que sentem o mesmo, é um privilégio. Não que os artistas devam assumir a infelicidade em nome do profissionalismo. Apenas os maus empregos são insatisfatórios. Mas olhar para a rotina com uma boa perspectiva pode ter seus benefícios.

Um artista que pode manter as boas vibrações através das adversidades cotidianas, provavelmente terá muito mais portas abertas para ele. Evoluir como profissional é algo essencial, mas faz-se também essencial tornar-se uma pessoa agradável, confiável, etc.

O talento vale muito, mas em nosso estúdio a combinação certa de talento e atitude positiva é o que mais nos interessa. Procuramos aqueles que tem iniciativa própria, que tem confiança para arriscar, que tenha humildade para pedir ajuda quando necessário e a capacidade de aceitar críticas como uma forma de melhorar o trabalho e não como um ataque pessoal a elas ”.

Ted Kotsaftis

Jay chamou sua palestra “10 coisas que eu gostaria de ter aprendido mais cedo“, e isso foi apropriado, dada a sua audiência naquele dia: estudantes e jovens profissionais. Essa ideia de ter uma boa atitude no ambiente de trabalho pode ser ainda mais relevante para eles. Por quê? Primeiro, porque os jovens iniciam suas carreiras e inevitavelmente se deparam com um “projeto chato” para o qual podem não estar preparados. Sem experiência, ignoramos como reagir melhor a essas situações comuns de trabalho. Segundo, porque há uma chance de que os alunos não estejam aprendendo isso nas faculdades: essa boa atitude combinada com o conhecimento do ofício pode levá-los a realização pessoal e profissional.

Como o próprio Jay aponta sobre a Giant Ant:

“Nós vamos sempre optar por alguém que é bom profissional e agradável, a alguém que é genial e desagradável”

Todos estamos sempre aprendendo a fazer muitas coisas e sempre compartilhando tudo on-line, mas às vezes falhamos em lembrar que isso ainda é um trabalho. Temos bons e maus momentos, como qualquer outro trabalho. De fato, mesmo com seus altos e baixos, provavelmente nossa área é ainda mais divertida do que muitos outras …
Ser grato por este fato pode ser uma maneira prática de encontrar essa motivação extra para se comprometer e executar até mesmo as tarefas sem entusiasmo com cuidado e atenção. 

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